EDITOR: Edgar Olimpio de Souza (O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.

 

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Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)

É a arte imitando a vida. Da mesma forma que Michael Keaton conquistou notoriedade na pele do homem morcego em Batman (1989) e Batman: o Retorno (1992), seu personagem no oscarizado Birdman também é um ator que virou celebridade por ter encarnado um super-herói em três sequências de sucesso. Se nos anos seguintes Keaton nada fez de muito relevante no cinema, na ficção o protagonista imergiu no ostracismo, após recusar uma quarta continuação da franquia. No longa, Riggan Thomas espera obter o reconhecimento artístico por meio da montagem de uma peça de prestigio. Na vida real, o Oscar, que não foi para o ex-Batman e caiu no colo de Eddie Redmaney (A Teoria de Tudo), seria o a cereja do bolo da sua volta por cima.

Parênteses: Holywwod, aliás, adora retornos de estrelas que estavam esquecidas. John Travolta renasceu ao brilhar em Pulp Fiction (1994), de Quentin Tarantino, e Mickey Rourke saiu da rota de decadência com a interpretação de um boxeador em O Lutador (2008), de Darren Aronofsky.  

Com assinatura do cineasta mexicano Alejandro Gonzalez Iñárritu (Babel / 21 Gramas), melhor diretor segundo eleitores do Oscar, o filme pode ser definido como uma peculiar comédia dramática, encharcada de metalinguagens e auto-referências, que fala sobre o canto da sereia da fama. Keaton vive o artista de meia idade que, enfastiado de vestir o herói com super poderes, capaz de voar e mover objetos pela força da mente, pretende oxigenar sua carreira e colher o prestígio de estrelar espetáculo na cultuada Broadway. Nesse sentido, aposta na adaptação teatral de um romance clássico do escritor americano Raymond Carver, chamado O que Falamos Quando Falamos de Amor, a ser levada no conceituado circuito teatral de Nova York.     

A empreitada, no entanto, se revela mais difícil do que se imaginava. Uma temida crítica de teatro desconfia que o tiro sairá pela culatra porque ele não seria mais um ator, mas uma celebridade. A filha problemática Sam (Emma Stone) acabou de sair de uma clínica de recuperação de dependentes químicos e passa parte do tempo acomodada na beira do telhado do prédio onde se localiza o teatro. Uma das atrizes da companhia, Lesley (Naomi Watts), está insegura, enquanto a colega Laura (Andrea Riseborough), eventual amante de Riggan, pode estar grávida dele. Dias antes da estréia, um integrante da trupe é vítima da queda de um refletor e precisa ser rapidamente substituído. Faltam opções, alerta o agente e produtor (Zach Galifianakis), porque Woody Harrelson está envolvido com Jogos Vorazes, Robert Downey Jr. filma Homem de Ferro e Michael Fassbender foi escalado para X-Men. A solução surge na figura do arrogante Mike Shiner (Edward Norton), discípulo do famoso Método da Actor´s Studio, uma escola de atores que propõe imersão total no personagem. Estilo fanfarrão, o substituto chega a estragar um ensaio por ter tido ereção em cena de intimidade na cama com Lesley.

As complicações não param por aí. Riggan é assombrado por uma voz, que insiste em antever mais um fracasso na sua vida. Simbolicamente, o super-herói Birdman continua irmanado nele. Ele levita, estala os dedos e produz explosões de carros, destrói o camarim num acesso de raiva. Em cena desconcertante, Riggan acidentalmente corre pela Times Square vestido só de cueca, para delírio de uma multidão de fãs que o persegue.         

O filme é mais do que uma sátira. Também é uma crítica bem humorada ao culto às celebridades, à presunção da Broadway e ao narcisismo de Holywood. Em suma, uma ironia mordaz a uma cultura cinematográfica cada vez mais infantilizada – basta observar as alusões feitas aos atores de prestígio em produções absolutamente caça-níqueis. Keaton é um dínamo na tela. Na trama, ele faz vibrar a luta desse artista pela integridade no afetado mundo do entretenimento americano, desembrulhando performance impactante, que combina ultraje, gana e melancolia.

Toda a história se desenvolve como se fosse um único plano-sequência, dando a impressão de que a produção foi rodada sem cortes. Flutuante, a câmera cruza corredores acanhados, sobe e desce escadas, circula pela rua, projeta-se de cima para baixo, faz movimentos inusitados. Em alguns momentos, o estudado exercício de estilo ameaça engolir o peso emocional do enredo – a sutileza desaparece e a técnica parece existir apenas para brincar com a percepção do público. Seja como for, o truque da edição invisível adiciona charme a uma obra temperada por humor absurdo e que reúne personagens com camadas variadas de perturbação. O tema do artista empenhado em salvar sua carreira do abismo, e por isso se dispõe a mover montanhas, não é novo. Aqui, além dos egos inflados, o maior inimigo de Riggan é o seu demônio interior.  

(Edgar Olimpio de Souza – O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. )

(Foto Divulgação)

 

Avaliação: Bom

 

Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)

Título Original: Birdman or (The Unexpected Virtue of ignorance) (EUA, 2014)

Gênero: Comédia dramática, 119 min

Direção: Alejandro Gonzalez Iñárritu

Elenco: Michael Keaton, Edward Norton, Naomi Watts e outros.

Estreou: 29/01/2015

 

Veja trailer do filme:

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