EDITOR: Edgar Olimpio de Souza (O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.

 

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Julieta

Neste filme sobre o desejo, a memória e a perda, o cineasta espanhol Pedro Almodóvar resgata o universo feminino e seus sentimentos desmesurados, tão habitual em sua obra. Com enredo livremente inspirado em três histórias interligadas da escritora canadense Alice Munro (Chance, Silence e Soon), o longa evolui como uma espécie de thriller de suspense, porém sem o propósito de estabelecer um desfecho revelador. Ou seja, não há, por exemplo, um crime a ser elucidado ou um culpado a ser descoberto. O que existe é um segredo em torno da vida melancólica de uma mulher madura, que doze anos atrás perdeu sem qualquer explicação o contato com a filha chamada Antía. Toda essa dolorosa e dolorida trajetória existencial será reconstruída em flashbacks. No presente, Julieta é vivida pela atriz Emma Suárez e na juventude pela bela Adriana Ugarte, ambas entregando desempenhos intensos e emocionais.     

Nos minutos iniciais, a personagem-título está arrumando as malas, prestes a migrar da Espanha para Portugal ao lado de seu recente parceiro (Dario Grandinetti). Mas um encontro casual na rua com uma jovem (Michelle Jenner), amiga de adolescência de sua filha, a faz mudar de planos. Ela decide permanecer em Madri e abandonar o novo companheiro, ao saber que a moça vira Antía com seus três filhos passeando pela cidade. Abalada emocionalmente com a notícia, e lidando há muito com fantasmas interiores, Julieta mergulha numa espiral de lembranças. Aos dezoito anos, a filha viajara para um retiro religioso nas montanhas e nunca mais voltou, para desespero da mãe, que nunca entendeu as razões do desaparecimento e chegou a contratar detetives particulares para encontrá-la. Como se fosse uma autoanálise, ela passa a escrever uma carta para Antía, na qual relata seu relacionamento com o falecido pai dela, o pescador Xoan (Daniel Grao), a inesperada amizade com a amante dele (Inma Cuesta) e sua tensa relação com a cruel, engraçada e enigmática governanta da casa (Rossy de Palma).

Por meio desse vaivém no tempo, a trama vai ganhando contornos e densidade. Vemos Julieta como uma jovem professora de literatura na década de 1980 em uma viagem de trem pelo interior da Espanha durante o inverno – sutil tributo a Pacto Sinistro, de Alfred Hitchcock. Nessa jornada, ela é abordada por um inconveniente homem mais velho, muda de vagão e conhece o rapaz bem apessoado Xoan, casado com uma mulher em estado de coma. Ali mesmo ambos conceberão Antia, momentos antes da protagonista presenciar um acidente fatal e se sentir indiretamente culpada. Um salto na narrativa e observamos Julieta feliz ao lado de Xoan, os dois acompanhando o crescimento da filha (papel encarnado por Priscilla Delgado e Blanca Pares). O diretor não demonstra pressa alguma em destrinchar as motivações que culminaram na ruptura de laços entre as duas mulheres. Ele chega a abrir espaço para um interlúdio um tanto estranho, vago e desconexo, traduzido por uma visita de Julieta ao pai em um povoado, quando repara que o velho mantém caso extraconjugal enquanto a esposa agoniza na cama.

Trata-se de uma crônica pungente, quase melodramática, mas que nunca resvala em uma linguagem folhetinesca. Um filme impregnado pelas cores vermelha (Julieta madura) e azul (Julieta jovem), que escancara portas psicanalíticas, porque ninguém apaga o passado, e é embalado pela envolvente trilha sonora de Alberto Iglesias, em acordes de suspense. Por vezes, parece que o longa vai priorizar o mistério, impregnando-se das convenções do gênero. No entanto, a suposição é logo desmontada ao se constatar o desenvolvimento dramático da trama. Ao abordar o tema da maternidade e do amor incondicional, com personagens reféns do tempo e da vida, Almodóvar esboça um estudo sombrio sobre a tristeza, a culpa cristã, o luto e a impossibilidade de se superar traumas antigos. Como em Tudo Sobre Minha Mãe (1999), Fale com Ela (2002) e Volver (2005), trabalhos relevantes em sua filmografia, o cineasta outra vez expõe figuras femininas fortes vivenciando circunstâncias trágicas. 

(Edgar Olimpio de Souza – O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. )

(Foto Divulgação)

 

Avaliação: Bom 

 

Julieta

Título Original: Julieta (Espanha, 2016)

Gênero: Drama, 99 min

Direção: Pedro Almodovar

Elenco: Emma Suárez, Adriana Ugarte, Dario Grandinetti e outros.

Estreou: 07/07/2016

 

Veja trailer do filme:

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