Fim do mundo?

Poucas vezes tantos indícios, anunciados profeticamente por religiões diferentes, coincidiram como neste fim de ano. Não só A Sentinela, dos Testemunhas de Jeová, como o Apocalipse, as profecias muçulmanas sunitas e xiitas e, inclusive, os bárbaros pagãos maias anunciam o fim do mundo para breve.

Para os cristãos, a anunciada próxima guerra de Israel contra o Irã irá convulsionar o Oriente Médio e provocar a III Guerra Mundial. Será o Armagedon tão temido, mas paradoxalmente tão esperado pelos evangélicos, porque anunciará o retorno de Jesus Cristo à Terra e seu reinado teocrático de mil anos de paz.

Para os iranianos xiitas, a transformação da região num braseiro fará ressurgir o "imã escondido", genro do profeta Maomé, desaparecido em 874. Para os sunitas, o Mahdi, o imã oculto, que terá o mesmo nome do Profeta, surgirá no fim dos tempos. Como um ataque israelense ao Irã poderá ser devastador, consta que o presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad crê na profecia do retorno do imã escondido e espera mesmo ser o seu braço direito nessa batalha do fim do mundo.

Os judeus continuam esperando a chegada de seu Messias, pois rejeitaram há dois mil anos o chamado Jesus, que anunciava o cumprimento das profecias de Isaias e de outros profetas do Velho Testamento ou Torá. Atualmente, talvez sejam os únicos a não anunciarem para breve o surgimento do Messias. Para o hassidismo fundamentalista, o Messias voltará quando as origens das lições de vida se expandirem pelo mundo.

Nisso, há uma certa semelhança entre o hassidismo, os protestantes e as seitas adventistas pois, baseadas num versículo dos Evangelhos, creem na volta de Jesus quando o Evangelho for pregado em todo o planeta. "Então virá o fim", com o julgamento dos vivos e mortos.

De uma maneira geral, existe uma concordância na expectativa das religiões de que quanto pior ficar a situação mundial mais perto se estará do fim do mundo - crises, catástrofes, crimes, corrupção, decadência moral, imoralidade, deboche, mais guerras e populações assassinadas, tudo isso será o sinal do fim dos tempos e do retorno de Jesus, do imã escondido ou do Mahdi e do Messias.

Depois de terem errado diversas previsões, os Testemunhas de Jeová não se arriscam mais a prever qualquer coisa e, reajustando erros passados, preferem dizer que Jesus já retornou em 1914 e está julgando o mundo.

Na verdade, a humanidade parece precisar de profecias que funcionam como válvulas de escape diante de situações difíceis, aparentemente sem escapatória.

Foi o caso da Primeira Guerra Mundial, depois da Segunda e das "guerras e rumores de guerras", das quais a mais espetacular foi a guerra contra o Iraque, desfechadas pelos Bush pai e filho. Um dos sinais do próximo fim teria sido o ataque islamita às Torres Gêmeas de Nova Iorque.

Em outras palavras, as profecias do Apocalipse e de tantos profetas de credos diferentes, valem tanto quanto as profecias de Nostradamus, atualmente desmoralizadas depois da chegada do Ano 2000 sem problemas.

Entretanto, nesse fenômeno das religiões e religiosos serem atraídos pela iminência da destruição do mundo e dos homens, como numa grande peste da Idade Média, desta vez pelo fogo e bombas nucleares, ressalta um paradoxo. Os evangélicos americanos apoiam Israel por acreditarem ser um pilar da crença cristã e, no seu inconsciente, esperam o pior, ou seja, o ataque israelense ao Irã para se provocar assim a concretização da profecia do Armagedon, narrada pelo discípulo João numa visão na ilha de Patmos.

Mas, quase nada do que provém da mitologia religiosa e suas predições ditadas aos iluminados, se realiza. E entre os fiascos mais terríveis está o acontecido em 1648, quando um rabino turco, Sabattai Zevi, se proclamou o Messias judeu. Alguns anos depois foi capturado pelo muçulmanos e obrigado a se converter ou a ser degolado. Sabattai Zevi frustrou todos seus fiéis, preferindo continuar vivo.

(Adir Tavares, publicado no blog do Luis Nassif)

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