EDITOR: Edgar Olimpio de Souza (O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.

 

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In On It

Em boa hora retornou ao cartaz um dos espetáculos mais interessantes dos últimos anos. Com título incomum, que permite múltiplas ilações, a peça do dramaturgo canadense Daniel McIvor é um exercício instigante de teatro, um libelo poético a partir do difícil tema da perda. Neste jogo, o espectador é colhido por peças de um quebra-cabeça emocional. O mais curioso nesta montagem, assinada por Enrique Diaz, é sua simplicidade estética, a economia de recursos. Tudo gira em torno do texto e do ator, com apenas duas cadeiras no palco e um casaco – refinada e meticulosa, a iluminação de Maneco Quinderé demarca os diversos níveis e ambientações da história.    

O êxito do espetáculo reside na combinação harmoniosa desses elementos, no fino equilíbrio entre comédia e drama, nos inspirados diálogos, no humor irônico e debochado, na sutileza com que os intérpretes Fernando Eiras e Emílio de Mello desincumbem-se de uma dezena de papéis. Seguros e cúmplices em cena, eles passeiam sem embaraços pelo enredo de construção engenhosa e hálito pirandeliano, deslizando de um personagem a outro, de dentro para fora e vice-versa. Performances pulsantes, destituídas de caricaturas, o que poderia ser uma armadilha levando-se em consideração o desenho das figuras criadas pelo autor. A hábil encenação de Enrique Diaz está a serviço do trabalho de interpretação. O diretor mantém a montagem fluente, escorrendo em um ritmo convenientemente acelerado, destacando as fendas emocionais, as fissuras intelectuais, as observações filosóficas.

A rigor, não é fácil descrever com precisão a estrutura em espiral da narrativa de McIvor, porque se trata da desconstrução de uma narrativa, moldado para ser frequentemente interrompido. Não está errado afirmar que a trama em si, no que diz respeito ao empilhamento de acontecimentos, não é levada muito a sério. O que importa é a forma como ela é desembrulhada. Três planos se alteram e se entrelaçam: dois personagens que discutem a concepção de um espetáculo, configurando-se uma peça dentro de outra, um homem tentando lidar com o fato de que ele pode ter uma doença terminal, a crônica da desintegração amorosa de um casal. As referências vão se embaralhando, há falsos momentos de clímax e vários finais. O público não precisa se afligir com a brincadeira assumida de confundir – cabe ao espectador imergir no contexto, amarrar as pontas soltas, reajustar o olhar a cada momento e compor o enredo ao seu modo. Ou seja, construir mais e ser menos receptor. Até porque uma pergunta, “é verdade ou invenção?”, feita em determinada passagem, ilustra bem as dúvidas intencionalmente lançadas pela dramaturgia. 

No fundo, o autor presta um tributo às possibilidades metalingüísticas do teatro, uma arte que pode chegar a comover se abordada com argúcia, senso e sutileza. Em sua essência, a peça se utiliza da perspicaz mistura de passado e presente para revelar como o tempo modifica a vida, como um episódio pode implicar e se conectar a tantos outros. Num olhar mais amplo, o texto trata da questão do afeto no mundo moderno.

(Edgar Olimpio de Souza – O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. )

(Foto: Dalton Valério)

 

Avaliação: Ótimo

 

In On It

Texto: Daniel MacIvor

Direção: Enrique Diaz

Elenco: Emilio de Mello e Fernando Eiras

Teatro Jaraguá (Rua Martins Fontes, 71, Centro. Fone: 3255-4380). Quarta e quinta, 21h. Ingressos: R$ 60. Até 26 de maio.

Estreou: 15/01/2010

 

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