EDITOR: Edgar Olimpio de Souza (O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.

 

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My Fair Lady

A trama é sabida: Henry Higgins, professor de fonética de família aristocrática, se propõe um desafio peculiar: o de transformar Eliza Doolittle, humilde e iletrada vendedora de rua, em uma dama da alta sociedade. O mote funciona para alavancar, nas entrelinhas, uma discussão sobre luta de classes – pobres x ricos – e a sempre difícil relação entre homem e mulher. Com estreia na Broadway em 1956, este célebre musical foi inspirado na comédia clássica Pigmalião, de George Bernard Shaw (1856-1950), e deixou um legado de belas canções, como I Could Have Danced All Night, On The Street Where You Live, Get Me To The Church On Time e The Rain In Spain. No Brasil, a primeira vez que texto e letras de Alan Jay Lerner e música de Frederick Loewe ganharam os palcos aconteceu em 1962. Assinada por Victor Berbara, Minha Querida Dama reuniu Bibi Ferreira, Paulo Autran e uma então jovem Marília Pêra.

A atual versão, de Cláudio Botelho, recebeu direção empolgante de Jorge Takla, que revisita a obra pela segunda vez – a primeira, em 2007, foi elogiada pela crítica, agradou o público e trazia como protagonistas os atores Daniel Boaventura e Amanda Acosta. Novamente o diretor concebeu um espetáculo imponente, que desliza elegante e suave, e extraiu rendimento elevado do grupo de trinta atores e intérpretes. Estreante num musical brasileiro, e dono de exitosa carreira internacional no mundo da ópera, o cantor lírico Paulo Szot prova que é também um ator de mão cheia. Ele incorpora um docente memorável, destilando as nuances de um Higgins misógino, irônico e odioso, inicialmente incapaz de reconhecer seu amor pela aluna, mas finalmente cedendo aos seus encantos. Apesar do personagem não exigir muita potência vocal, especialmente nos primeiros números, quando praticamente declama as canções, Szot exibe sua poderosa voz de barítono em Me acostumei com o rosto dela. Selecionada entre seiscentas candidatas, a bonita soprano goiana Daniele Nastri é uma agradável surpresa, na pele da carente florista – seu delicado timbre vocal ressoa nas músicas Agora eu vou dançar e Você vai.

No corpo do beberrão Alfred Doolittle, pai da moça, Sandro Cristopher está hilário, em especial nas cenas transcorridas num pub, ao entoar Um pouquinho assim de sorte e Me levem logo pro altar. Tem como coadjuvantes os inspirados Fernando Cursino (Harry) e Felipe Tavolaro (Jamie), no enredo seus companheiros de fanfarronice. Eduardo Amir desencapa com competência o Coronel Pickering, amigo do acadêmico. Bisando o papel da montagem passada, Fred Silveira interpreta com vigor e carisma Freddy, o rapaz apaixonado por Eliza. As talentosas Eliete Cigaarini e Daniela Cury se distinguem,  respectivamente, nas funções da elegante Sra. Higgins e da enérgica Sra. Pearce.

Para dar consistência e brilho à encenação, Takla se cercou de uma equipe técnica de altíssimo nível. Nicolás Boni, cenógrafo argentino de larga experiência em ópera, e agora debutando em musicais, criou um cenário extremamente sofisticado, com destaque para o salão de baile da Embaixada da Transilvânia. Na abertura, concebeu um enorme telão, que reproduz um jornal britânico dos anos 1910. Trata-se de conveniente junção de diversas notícias da época, numa alusão aos temas do musical – há espaço até para uma crítica de Pigmalião, em sua estreia em 1914. Fábio Namatame, responsável pelos figurinos da outra adaptação, dessa vez deu um ar mais contemporâneo e sofisticado às peças para combinar com a suntuosidade do cenário – ele apostou em cores mais densas, com o predomínio do colorido. O diretor musical Luís Gustavo Petri, que divide a regência com Natan Bádue, reescreveu os compassos originais, moldando-os para os catorze músicos da orquestra. A competente Tânia Nardini elaborou uma coreografia movimentada e divertida. A luz desenhada por Ney Bonfante é também um dos pontos altos da produção. Eficiente e sedutor, o musical é um estudo sobre a natureza humana e os códigos e valores das classes sociais. Com direito a desfecho não previsível.

(Vinicio Angelici – O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. )

(Foto João Caldas)

 

Avaliação: Ótimo

 

My Fair Lady

Baseado no clássico Pigmalião, de George Bernard Shaw 

Texto e Letras: Alan Jay Lerner

Música: Frederick Loewe

Direção: Jorge Takla

Elenco: Paulo Szot, Daniele Nastri, Sandro Christopher, Fred Silveira e outros.

Estreou: 27/08/2016

Teatro Santander (Shopping JK. Avenida Juscelino Kubitschek, 2.041,  Itaim. Fone: 4003-1022). Quinta e sexta, 21h; sábado, 17h e 21h; domingo, 16h e 20h. Ingresso: R$ 50 a R$ 260. Até 11 de dezembro.

 

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