EDITOR: Edgar Olimpio de Souza (O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.

 

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Teatro: Escola de Mulheres

Ao escrever esta deliciosa e descontraída comédia, Molière sentiu desabar sobre sua cabeça um mundo de críticas. Rotulada de obscena e vulgar, incomodou a hipócrita sociedade francesa de 1662. Exatos 360 anos depois, o texto do dramaturgo francês, mestre na maneira satírica como observa os costumes da época, continua demolidor, como prova a boa montagem dirigida por Clara Carvalho e protagonizada por Brian Penido Ross.

Nesta peça pontuada de reflexões sobre o sentimento humano, ele interpreta Arnolfo, um sujeito de meia idade e especialista em manter romances com mulheres casadas. Como conhece todas as artimanhas que elas armam para enganar os seus maridos, Arnolfo acha que pode fraudar a realidade ao adotar uma garota de quatro anos, isolá-la em um convento e prepará-la para um casamento seguro com ele. Ao atingir a maioridade, Inês (Gabriela Westphal) é uma moça ingênua e sem malícia, mas não imune aos encantos do jovem galanteador Horácio (Ariel Cannal). Em se tratando de Molière, a estratégia de Arnolfo de blindar uma mulher contra as pulsões do amor e do sexo é um prazeroso mote para uma comédia impiedosa sobre a queda de um homem tolo o suficiente para duelar contra a natureza e o bom senso.

A diretora Clara Carvalho traduziu e adaptou os versos alexandrinos originais, fazendo os cortes necessários. Com isso, imprime fluidez, leveza e agilidade à história, deixando-a escorrer ao sabor de seus muitos eventos. Conseguiu bom resultado do elenco. Brian Penido Ross, com larga experiência no Grupo TAPA, faz um Arnolfo com todas as nuances, injetando-lhe as características de hábil, artificioso e velhaco. Ariel Cannal (Horácio) e Gabriela Westphal (Inês) convencem como o casal apaixonado, remetendo a um Romeu e Julieta com final feliz. Nos papéis dos dois criados do personagem central, Rogério Pércore (Alain) e Vera Espuny (Georgette) formam uma dupla que intervém sempre de maneira hilária. A introdução do personagem Cupido (Felipe Souza), inexistente no original, confere um caráter onírico à montagem. Fúlvio Filho imprime sabedoria e elegância ao seu Crisaldo. Completam o elenco Luiz Luccas (Henrique) e Leandro Tadeu (Oronte), em intervenções corretas.

A produção é primorosa, tendo Clara se cercado de um time de primeira linha. Chris Aizner criou um ambiente funcional, emoldurado por belíssimos telões. Nota-se bom trabalho de pesquisa nos figurinos da sempre competente Marichilene Artisevskis. Os atores circulam com desenvoltura graças à direção de movimento de Guilherme Sant´Anna. As canções interpretadas pelo elenco têm letra e música de Gustavo Kurlat, que também assina a direção musical. Tudo isso iluminado pelo bonito desenho de luz de Wagner Pinto.                                                                                                                             

É bom lembrar que Molière se inspirou nele mesmo para falar da alma do personagem ridículo. Quando escreveu a peça, sua situação era idêntica. Com quase cinquenta anos. casou-se com uma jovem de dezoito, Amanda Bejart, que o traía. Ferido pelo ciúme, colocou Arnolfo frente a uma ingênua. O humor do autor superou o próprio egoísmo. Na peça, Inês prefere o jovem desconhecido ao velho protetor. O autor permite que se ria de Arnolfo à custa de seu próprio enredo. Mas, certamente, a máscara ridícula de Arnolfo ocultava seu rosto banhado em lágrimas.

(Foto: Ronaldo Gutierrez)

(Vinicio Angelici - O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. )

 

Avaliação: Ótimo

 

Escola de Mulheres

Texto: Molière

Direção: Clara Carvalho

Elenco: Brian Penido Ross, Gabriela Westphal, Ariel Cannal, Fulvio Filho e outros

Estreou: 15/01/2022

Teatro Aliança Francesa (Rua General Jardim, 182, Vila Buarque. Fone: 3572-2379). Quinta a sábado, 20h, domingo, 18h. Ingresso: R$ 60. Compra Online: www.sympla.com.br/teatroaliancafrancesa. Em cartaz até o dia 27 de março.

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