EDITOR: Edgar Olimpio de Souza (O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.

 

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Carol

Na cena de abertura, que irá se repetir no desfecho sob outro ângulo e novos sentidos, duas mulheres bebem chá. Não se ouve nada da conversa íntima, até serem subitamente interrompidas pela aparição de alguém que reconhece uma delas. Há uma estranheza nessa sequência e só saberemos da importância desse encontro após um longo flashback. Baseado na obra de 1952 da escritora americana Patricia Highsmith, que na ocasião assinou com o pseudônimo de Clara Morgan, o longa conquistou seis merecidas indicações ao Oscar. Com narrativa simples, este filme dirigido por Todd Haynes é um delicado romance lésbico ambientado em uma época marcada por excessivo conservadorismo e opressão masculina. 

A trama se desenvolve durante o período natalino em Nova York, no início dos anos 1950. Na seção de brinquedos de uma grande loja de departamentos, Carol (Cate Blanchett) e Therese (Rooney Mara) se conhecem e se flertam. Trata-se de uma ligação imediata, que desperta sem palavras. Carol é uma refinada dama da alta sociedade, mãe de uma filha de quatro anos, prestes a se divorciar do marido rico, o inconformado e arrogante Harge (Kyle Chandler, em consistente desempenho). Therese é a introvertida e entediada funcionária, insatisfeita com o namorado Richard (Jake Lacy, convincente como o apaixonado atônito) e que almeja trabalhar com fotografia. Um par de luvas esquecido sobre o balcão – teria sido de propósito? – servirá de pretexto para a aproximação entre ambas.   

Talvez a paixão e o desejo tenham surgido numa circunstância pouco propícia, porque o envolvimento amoroso não se consumará sem problemas. Especialmente a partir do instante em que elas viajam pela estrada afora, como se fossem fugitivas, dispostas a escapar dos inevitáveis olhares de desaprovação. Therese se atrai pela sofisticação urbana de Carol. Esta, por sua vez, se empolga pela juventude da outra. Em algum instante, no entanto, terão de retornar à vida como ela é, o que significa enfrentar rejeições, encarar dores emocionais e decidir sobre questões urgentes, como a custódia da filha, no caso de Carol, e o futuro profissional, dilema de Therese.   

Estamos diante de um drama conceitual, abordado com genuína sinceridade, que privilegia os sentimentos e não o jogo de intrigas. Nota-se isso, por exemplo, na forma sussurrada como Carol se dirige à Therese, na fotografia de intenções poéticas, no tratamento dramático da luz, no suave hálito melodramático do enredo. Um clima de melancolia paira no ar, os diálogos são elegantes e a música exuberante de Carter Burwell abre espaço para silêncios pontuais.

Com interpretações irrepreensíveis, as duas atrizes formam um dos casais mais memoráveis do cinema nos últimos anos. Cate Blanchett injeta temperamento forte ao seu personagem, oscilando entre explosões furiosas com o marido e declarações afetuosas para sua recente conquista. Na pele de uma jovem assustada e perplexa, Rooney Mara comporta-se com estudada rigidez.

Nesta história de amor proibido e dolorosamente erótico, algumas cenas provocam desconforto. Em uma sala, na presença de advogados, Carol está tentando argumentar e é instada a escolher entre a guarda da sua filha ou a pessoa que quer ao seu lado. Escudado por um caso homossexual da mulher no passado, com a amiga Abby (Sarah Paulson, em performance segura), o marido está firmemente convicto de usar tais episódios contra ela. O longa expõe esse romance homossexual de forma lenta. O casal só chega à intimidade física depois de decorrido mais de uma hora de projeção. Reféns da moralidade sexista daqueles tempos, Carol e Therese buscam respirar num ambiente sem oxigenação. Não à toa elas viveram até ali fingindo ser o que não são.

(Edgar Olimpio de Souza – O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.   

(Foto Divulgação)

 

Avaliação: Bom

 

Carol

Título Original: Carol (Estados Unidos, 2015)

Gênero: Drama, 118 min.

Direção: Todd Haynes

Elenco: Cate Blanchett, Rooney Mara, Kyle Chandler, Sarah Paulson e Jake Lacy.

Estreou: 14/01/2016

 

Veja trailer do filme:

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