EDITOR: Edgar Olimpio de Souza (O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.

 

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Teatro: A Cor Púrpura - O Musical

Pode até não ter o traço sombrio do romance de Alice Walker, que inspirou uma versão cinematográfica (1985, direção de Spielberg) e uma premiada adaptação teatral (2005, na Broadway), mas o musical tem potência suficiente ao abordar temas importantes, como as relações opressoras de poder, desigualdades sociais e econômicas, questões étnicas e de gênero, empoderamento feminino. No Brasil, o roteiro de Marsha Norman, temperado pelas músicas e letras de Brenda Russel, Allee Willis e Stephen Bray, foi traduzido por Artur Xexéo e recebeu versão envolvente e delicada assinada por Tadeu Aguiar, um nome que vem se destacando na direção de alguns bons espetáculos musicais brasileiros (Quase Normal / Bibi, Uma Vida em Musical).

Trata-se de uma montagem arrebatadora e contundente, que se assiste com grande interesse. Ambientada em uma comunidade rural negra do sul dos Estados Unidos na primeira metade do século XX, a peça tem como protagonista a jovem Celie (Leticia Soares). Ainda adolescente, é abusada pelo suposto pai (Jorge Maya) e seus dois filhos lhe são arrancados. Não bastasse, é afastada da irmã caçula Nettie (Ester Freitas) e entregue ao cruel e esnobe fazendeiro Mister (Sérgio Menezes), que a maltrata e a usa como criada. Assim tem início uma longa história de quatro décadas, um panorama ambicioso e dramático da presença afrodescendente naquele país.

Aguiar conseguiu compor um grupo homogêneo de dezessete atores negros, responsáveis por sólidos desempenhos que valorizam muito a montagem. A atriz Letícia Soares mostra toda sua versatilidade na interpretação e no canto, numa performance que vai se agigantando com o decorrer da trama. Flávia Santana imprime simpatia e exuberância à figura de Shug Every, uma diva de jazz de espírito livre, objeto de paixão de Mister. Com voz potente, Lilian Valeska brilha como a insubmissa e ousada Sofia, nora de Mister, que não permitirá que o sogro a trate com a rispidez e grosseria com que costuma tratar as outras mulheres. Shug e Sofia, aliás, são as duas personagens que detonarão uma reviravolta na vida de Celie, abrindo-lhe perspectivas de transformações fundamentais. Sérgio Menezes incute autoridade ao papel de Mister, numa atuação irrepreensível. Harpo, marido de Sofia, é feito com energia contagiante, às vezes até exagerada, pelo hilário Alan Rocha.

As atrizes Cláudia Noemi (Darlene), Erika Affonso (Doris) e Suzana Santana (Jarene) chegam a roubar as cenas, na composição de um impagável trio de fofoqueiras. Ancorada em rendimento seguro, Ester Freitas encarna Nettie, irmã da protagonista, que vira missionária na África. Analu Pimenta exibe bons momentos como a espevitada Gralha. Na pele do presumido pai de Celie, Jorge Maya tem interpretação correta. Os demais intérpretes seguem o mesmo padrão, casos de Renato Caetano (Guarda), Nadjane Pierre (solista da Igreja), Thór Junior (Pastor), Gabriel Vicente (Bobby), Caio Giovani (Grady) e Leandro Vieira (Buster).

Diferentemente da Broadway, cuja cenografia acomodava dezessete cadeiras no palco, a encenação brasileira optou por uma casa giratória ladeada por escadas laterais, concepção da cenógrafa Natália Lana. A estrutura da residência foi baseada nas construções sulistas americanas comuns no início do século passado – é a tradicional porch, aquela varanda onde se reuniam as famílias. Apesar de imponente, o cenário é demasiado grande, reduzindo o espaço para as belas coreografias de Sueli Guerra. Diretor musical, Tony Luchesi programou 32 números musicais, um arco variado que inclui jazz, blues, soul e gospel, uma trilha executada por uma orquestra de oito músicos, regida por Thalyson Rodrigues. Ney Madeira e Dani Vidal criaram noventa figurinos em tons envelhecidos, que retratam a Geórgia daquele período. Completando a equipe técnica, Rogério Wiltgen elabora competente iluminação. 

Sem exagero, estamos diante de um dos melhores musicais montados recentemente no País. Que, além de emocionar, suscita uma reflexão sobre um mundo matriarcal que tenta ganhar voz e se fazer respeitado em uma época tingida pela repreensão e violência patriarcal.

(Vinicio Angelici – O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. )

(Foto Rafael Nogueira)

 

Avaliação: Ótimo

 

A Cor Púrpura

Texto: Marsha Norman

Músicas e Letras: Brenda Russel, Allee Willis e Stephen Bray

Tradução: Artur Xexéo 

Direção: Tadeu Aguiar

Elenco: Letícia Soares, Jorge Maya, Ester Freitas, Sérgio Menezes, Flávia Santana, Lilian Valeska e outros.

Estreou: 06/12/2019

Theatro Net São Paulo (Shopping Vila Olímpia - Rua Olimpíadas, 360, Vila Olímpia. Fone: 3448-5061). Sexta, 20h30; sábado, 17h e 21h; domingo, 19h). Ingresso: R$ 75 a R$ 220. Em cartaz até 16 de fevereiro. 

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