EDITOR: Edgar Olimpio de Souza (O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.

 

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Cinema: Vips

Diretor de videoclipes e comerciais, Toniko Melo levou às telas a história real do compulsivo falsário e mitômano Marcelo Nascimento da Rocha, um rapaz de classe média baixa, filho de cabeleireira e pai desconhecido, supostamente piloto de avião. Interessante por abordar alguém que vive do fingimento, o filme chegou a ser comparado ao longa Prenda-me se For Capaz, contrariando o cineasta, que enxerga na produção de Spielberg a saga de um falsário e não a de um farsante, como no caso de sua obra. Seu trabalho é inspirado num livro da jornalista Mariana Caltabiano, por sinal, outra vítima das espertezas do protagonista que, durante a fase de entrevistas, mentiu estar negociando com outra editora, aumentando sua participação na vendagem. O roteiro de Bráulio Mantovani e Thiago Dottori mais expõe que tenta decifrar a personalidade do fingidor, que atualmente cumpre pena na cadeia após aplicar mais um de seus golpes. É um personagem que abre várias possibilidades narrativas e psicológicas, de certa forma mal aproveitadas por um tipo de direção sem ousadia. Com imaginação além da conta, esta figura controvertida cultiva o hábito de incorporar ou forjar identidades falsas o que, no âmbito da psicologia, poderia ser considerado uma atitude típica de quem precisa se auto-afirmar. Marcelo Rocha, na vida real, é um sujeito de aparência afável e bonachão. Na película, o carisma e o talento do ator Wagner Moura acentua esse perfil, produzindo um tipo de encantamento que muitas vezes gera simpatia entre aquele espectador que se atrai pela malandragem irresponsável. Não se espera algum aprofundamento ou estudo de comportamento. Melo se contenta em acompanhar a trajetória do personagem central desde a adolescência na escola, onde imitava os colegas e professores, até a vida adulta. Um percurso tortuoso, diga-se, que escancara sua paixão pela pilotagem de aeronaves, seu ingresso no narcotráfico como piloto de contrabando e os sucessivos golpes que enganam empresários, celebridades e a polícia.

Um dos trambiques mais espetaculares foi ter alugado um helicóptero, descido num hotel de luxo acompanhado de dois seguranças e se passado pelo filho do dono da companhia aérea Gol. Na ocasião, foi entrevistado em rede nacional pelo colunista televisivo Amaury Júnior num camarote do carnaval de Recife, em meio a colunáveis, empresários e artistas. A cena é reproduzida na tela, num dos momentos mais constrangedores na carreira do famoso apresentador. Sem preocupação em investigar motivações psicológicas de alguém que se alimenta da dissimulação, se revela inadequado ao convívio social e sente-se rejeitado, a trama é bem construída e se desenvolve satisfatoriamente. No entanto, a pressa com que algumas sequências são costuradas a partir de um determinado momento desperdiça a perspectiva de se explorar questões contemporâneas como a cultura da aparência, a atração pela sociedade do espetáculo, a fantasia do mundo das celebridades. O intuito, parece, foi o de transformar a trajetória do golpista em um drama que parece resumido a um casual conflito de identidade. Não há desdobramentos ou pistas jogadas ao longo da narrativa, embora seja possível perceber a fragilidade emocional do personagem por debaixo de suas travessuras. O farsante só não aparece de forma bidimensional porque a interpretação de Moura, que sublinha a euforia com que ele pratica seus ilícitos, consegue captar e expressar algumas nuances. Trata-se de um filme, ao menos, curioso.

(Edgar Olimpio de Souza)

 

Avaliação: Bom

 

Vips

Título Original: Vips (Brasil, 2010)

Gênero: Drama, 96 min

Direção: Toniko Melo

Elenco: Wagner Moura, Arieta Corrêa, Gisele Fróes e outros

Estreou: 25/03/2011

 

 Assista ao trailer do filme:

 

 

 

 

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