EDITOR: Edgar Olimpio de Souza (O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.

 

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Teatro: Mais Respeito que Sou Tua Mãe

De perto, ninguém é normal nessa família completamente descontrolada que se esforça inutilmente para ser convencional. Versão teatral de Antonio Gasalla para a blognovela do escritor e jornalista argentino Hernán Casciari, a peça fez bastante sucesso na Argentina e foi adaptada aqui por Miguel Falabella, que também dirige a montagem. Após cumprir boa temporada no Rio de Janeiro, desembarca nos palcos paulistanos com a perspectiva de repetir o sucesso comercial. Não deverá ser uma missão difícil porque se trata de uma deliciosa comédia de costumes com ingredientes suficientes para envolver a platéia. Toda a narrativa gira em torno desse núcleo familiar fadado a levar a vida de maneira pouco harmoniosa, cujas relações internas podem ser tudo, menos ajustadas. Quem comanda essa bizarra família em permanente colisão é Nalva (Claudia Jimenez), uma suburbana carioca de 52 anos que narra e comenta com o público o cotidiano cheio de desventuras, problemas financeiros e temperamentos conflitantes. O marido, vascaíno fanático, é desempregado.  O filho mais velho é um intelectual com crise de identidade sexual.  O outro, um rapaz que parece destinado a ser um nada na vida.  A filha demonstra evidente vocação para a prostituição. O sogro tem como passatempo plantar maconha no jardim e fumar a erva o tempo todo. Estruturada em esquetes, como se fossem capítulos, a peça navega por temas como sexo, homossexualidade, valores familiares, mundo virtual e consumo de drogas. Nada que se aprofunde, mas o suficiente para escapar da comédia inconseqüente.    

A direção de Falabella imprime dinamismo ao espetáculo e tinge a história com um tipo de humor debochado, por vezes anárquico, na mão contrária à crítica moral ou ao retrato social.  É um estilo só aparentemente caótico porque as marcações são bem desenhadas para privilegiar a comicidade das situações. Não à toa a encenação é embalada por inserções operísticas, que realçam o quadro de tragicidade da trama. Nem a sem-cerimônia com que os personagens despejam palavrões e expressões chulas incomoda ao público – falas e diálogos estão perfeitamente integrados ao contexto. Há um clima terno, singelo e romântico que ronda o espetáculo e dá-lhe uma pitada especial. Cláudia Jimenez, com “timing” excelente para a comédia, é capaz de fazer rir apenas com expressões faciais, gestos e pausas, sem nunca mergulhar na caricatura ou no estereótipo fácil. Ela é a alma da montagem, com impressionante domínio de palco. Está bem coadjuvada pelos experientes atores Ernani Moraes, impagável como o marido grosseiro, e Henrique César, marcante como um velho amalucado. Os demais, Frank Borges, Sara Freitas, Gabriel Borges e Séfora Rangel, exibem atuações eficientes e contribuem para o êxito do trabalho. De certa forma, tudo funciona bem nesta montagem com ar de crônica de costumes. O cenário de José Dias, adequado, reproduz uma casa do subúrbio carioca que se abre para um quintal com muro e faz ver belas noites estreladas. A iluminação de Carlos Leifert é correta.  Os figurinos, de Sônia Soares, são funcionais. Leandro Lapagesse assina uma trilha sonora envolvente.  O espetáculo não vai mudar os rumos do teatro, mas cumpre honestamente a função de entreter sem apelar.

(Vinício Angelici – O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. )

(Foto Priscila Prade)

 

Avaliação: Bom

 

Mais Respeito que Sou Tua Mãe

Autor: Hernán Casciari

Direção: Miguel Falabella

Elenco: Cláudia Gimenez, Ernani Moraes, Henrique César e outros

Estreou: 25/03/2011

Teatro Procópio Ferreira (Rua Augusta, 2823, Cerqueira César. Fone: 3083-4475). Sexta e sábado, 21h30; domingo, 19h. Ingresso: R$ 70 a R$ 90. Até 25 de setembro.

 

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