EDITOR: Edgar Olimpio de Souza (O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.

 

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Cinema: Magia ao Luar

Pode ser um tanto raso, familiar e aquém de outros trabalhos, porém o novo filme de Woody Allen transpira leveza sem ser banal, reúne personagens com algo a dizer e escora-se mais uma vez em diálogos espirituosos. Moldado como comédia romântica, só na aparência movida a alguns clichês do gênero, o longa oferece uma pertinente discussão sobre a fé e seu contraponto, o racionalismo. Nesta produção, que marca o retorno do diretor à França após o elogiado Meia Noite em Paris, o tema enrustido é a necessidade do ser humano em criar ilusões para temperar um cotidiano sem graça.

Tudo se passa na bucólica e ensolarada Riviera Francesa, durante a charmosa década de 1920. Ali desfilam carros da época, as pessoas se vestem com trajes vintage e a trilha sonora é Cole Porter. A jovem americana Sophie (Emma Stone, em desempenho marcado pela suavidade e sorriso demolidor) anda encantando uma família rica por exibir supostos dons paranormais. O filho da viúva está literalmente de quatro por ela e não se furta a cometer serenatas em sua homenagem – as cenas em que o jovem entoa canções de amor são hilárias. A matriarca viúva também ficou seduzida porque a moça alega se comunicar com os mortos e promove sessões espíritas em que estabelece contatos com o falecido marido da herdeira.

Os tais poderes espirituais da vidente serão colocados à prova pelo vaidoso, egocêntrico e cético mágico profissional Stanley (Colin Firth, que impregna o personagem com agressividade irônica), convocado por Howard, velho colega de profissão, para justamente desmascará-la. No palco, onde ele atua com o nome artístico de Wei Ling Soo, Stanley é capaz de fazer desaparecer ao vivo um elefante. Fora do ambiente de trabalho, incógnito, ele cultiva o orgulho de desvendar os truques empregados por aqueles que se apresentam como paranormais e têm o mau hábito de ludibriar famílias endinheiradas. O mestre do ilusionismo está convencido de que Sophie não passa de uma charlatã, mas a convivência com a jovem médium acaba produzindo fissuras em suas convicções. Afinal, ela se mostra capaz de ler os pensamentos dele, revelar episódios de seu passado e contar detalhes sobre seus parentes mortos.  

O que Allen implementa é uma prazerosa queda de braço, um jogo de gato e rato entre os dois protagonistas que, claro, irão se atrair apesar da diferença de idade, de visões de mundo e de atitudes – ele, incrédulo, reverente à ciência e leitor de Nietzsche, ela, assertiva, devotada à fé e crente no mundo dos espíritos. Qual a lógica de se apaixonar por alguém tão diferente? Como em outras obras, o personagem de Colin Firth é uma representação do diretor, com suas costumeiras dúvidas existenciais e angústias filosóficas.

O filme escapa de uma discussão mais profunda sobre a racionalidade, a espiritualidade e as contradições do amor, um sentimento que, aqui, irá se configurar como uma armadilha. Pode-se afirmar que Allen não verticaliza a essência dos personagens, fica no meio do caminho entre o romantismo e a comédia sarcástica e acelera o processo de conversão de Stanley ao universo do misticismo. Opções que empobrecem possíveis impactos dramáticos embutidos e insinuados pelo enredo. São desajustes, no entanto, que não desbotam o interesse da trama. O longa envolve e detém algumas reflexões substanciosas. Como se observa na fala de um personagem: “O mundo pode ser sem propósito, mas não acontece sem magia”.

(Edgar Olimpio de Souza)

(Foto Divulgação)

 

Avaliação: Bom

 

Magia ao Luar

Título Original: Magic in the Moonlight (EUA, 2014)

Gênero: Comédia romântica, 98 minutos

Direção: Woody Allen

Elenco: Colin Firth, Emma Stone, Eileen Atkins e outros

Estreou: 28/08/2014

 

Veja o trailer do filme:

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