EDITOR: Edgar Olimpio de Souza (O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.

 

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Teatro: Disney Killer

Em determinada cena, um personagem é induzido por outro a comer uma barata viva, numa espécie de liturgia. O inseto é criado em laboratório e alguns deles circulam livremente pelo espaço cênico. Não é incomum que algum espectador abandone a sala neste momento. A peça do dramaturgo inglês Philip Ridley é feita para incomodar mesmo. A trama flagra dois irmãos gêmeos, Presley (Darson Ribeiro) e Haley (Samantha Dalsoglio), que vivem trancafiados em uma casa decrépita e são incapazes de se relacionar com o mundo externo, que vêem como hostil. Sobrevivem de uma dieta à base de chocolates e pílulas para dormir. Seus pais desapareceram e não há informações suficientes sobre o paradeiro deles. Ambos são perturbados por pesadelos de violência e luxúria. Em um deles, como relata Haley, ela é perseguida por cães até uma igreja e acaba escalando a cruz para se salvar. Para o autor, o mundo é um lugar sem sentido, uma sociedade que perdeu o rumo e parece espreitar um monstro. Curiosamente, embora o medo seja o tema central e haja algumas cenas perturbadoras, o material exibido não chega a assustar. Insinua-se mais como retrato de uma situação social. A rotina desses irmãos em estado de paralisia emocional será revirada com a chegada de um enigmático personagem, Cosmo Disney (Felipe Folgosi), um artista de cabaré que parece mais uma estrela hollywoodiana. Homofóbico e amante dos shows de aberrações, ele tem o hábito de se alimentar de insetos por acreditar que o homem precisa de uma dose diária de miséria. Está acompanhado de um capanga, Pitchfork (Alexandre Tigano), um gigante deformado que se esconde atrás de uma máscara e apenas murmura. Ao contrário dos irmãos, que têm medo do presente e celebram o passado ao lado dos pais, Cosmo viveu solitariamente e não guarda lembranças felizes da infância.

Até então um quadro de desolação existencial, a montagem ganha outro ímpeto. Como Haley está dormindo, dopada pelas pílulas, instaura-se um duelo verbal entre o anfitrião e o visitante, marcado por um sinuoso jogo de sedução, desejos velados e diálogos que passeiam por temas como homossexualismo, sexo, vida e morte. Cosmo manipula emocionalmente Presley. Como o texto não oferece outros confrontos verbais, uma vez que a relação entre os gêmeos não é desenvolvida satisfatoriamente, a encenação se sustenta pelo contexto surreal, personagens mórbidos e trama doentia. A direção de Darson Ribeiro revela alguma dificuldade para driblar a armadilha entre o real e o imaginário. Acerta no tom, realçando a atmosfera de ameaça, o simbolismo religioso e o humor quase nonsense, mas parece claudicar entre o thriller psicológico e a reflexão lúgubre sobre a loucura do mundo atual. Se enxugasse a duração do espetáculo, poderia somar mais consistência e concentração aos temas ali enfeixados. O elenco exibe bons desempenhos, mesmo sem exercitar as nuances dos personagens. O aspecto sombrio de Presley é aparente e deixa de produzir o desconforto necessário. De natureza provocadora, Cosmo materializa-se mais como figura bizarra. Haley emerge como ser taciturno e Pitchfork é um tipo pouco amedrontador. Trata-se de um espetáculo que, mesmo imperfeito, levanta discussão pertinente, a de que vivemos a era do medo. Escrita em 1991, a peça tornou-se visionária ao antecipar um  tempo em que as novas gerações preferem se amotinar em casa, imaginando-se protegida, a enfrentar situações reais.                                                                                                                       

(Edgar Olimpio de Souza – O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. )                                                                             

(Foto Divulgação)

 

Avaliação: Bom

 

Disney Killer                                                                                                                     

Texto: Philip Ridley                                                                                                               

Direção: Darson Ribeiro                                                                                                                            

Elenco: Darson Ribeiro, Samantha Dalsoglio, Felipe Folgosi e Alexandre Tigano

Estreou: 09/09/2011                                                                                                        

Espaço Cênico do Sesc Pompeia (Rua Clélia, 93, Pompéia. Fone: 3871-7700). Sexta e sábado, 21h; domingo, 19h.  Até 16 de outubro.



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