EDITOR: Edgar Olimpio de Souza (O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.

 

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Teatro: Eu Vou Tirar Você Deste Lugar - As Canções de Odair José (RJ)

O cantor e compositor goiano Odair José, 66 anos, recentemente virou cult e passou a ter o reconhecimento de parte da crítica especializada. O novo status demole a etiqueta de rei das domésticas, que o carimbou ao longo da carreira e o ajudou a vender mais de dez milhões de discos, especialmente nos períodos de 1970 e 1980. Até sua obra foi revisitada por nomes do pop-rock nacional, que em 2006 gravaram o álbum Vou tirar você desse lugar – Tributo a Odair José. O que pouca gente sabe, no entanto, é que ele também foi vítima da censura vigente durante o regime militar brasileiro. Algumas de suas canções chegaram a ser interditadas – caso de Pare de Tomar a Pílula, por supostamente fazer propaganda contrária ao controle da natalidade.

Diferentemente da onda de musicais que celebram a trajetória real de ícones da MPB, como Elis Regina, Cazuza e Tim Maia, este espetáculo leve, despretensioso e intencionalmente kitsch é uma ficção construída a partir do cancioneiro do agora ex-cafona Odair José. Ninguém verá a narrativa da sua vida. A montagem estreou em Brasília, passou por Belo Horizonte e desembarcou em São Paulo, trazendo na bagagem críticas positivas e elogios do público. Na cidade paulistana, o artista compareceu à estréia e não disfarçou a emoção.

O jornalista e dramaturgo Sérgio Maggio pinçou vinte baladas e rocks do amplo repertório do intérprete e letrista e produziu uma comédia, claramente sem viés de profundidade, que flerta com o teatro de revista e a chanchada. Pérolas como Cadê Você, Assim sou eu, Vida que não para e Revista Proibida deram matéria-prima à dramaturgia e forneceram personagens (prostitutas e domésticas, por exemplo) e situações (dores de amor e paixões, entre outras ciscunstâncias) que banham a trama folhetinesca. O autor ambientou a história do jovem que queria ser artista, sob oposição do pai moralista, inicialmente em um bordel paulistano no início do século passado. Na época, a cidade foi abalada pelo assassinato da meretriz Nenê Romano, morta por um jovem e renomado advogado. Depois, a peça dá um salto no tempo e estaciona na década de 1970, no ápice da ditadura militar.

Maggio, que também assina a direção, desenhou uma encenação ágil e agradável de acompanhar, extraindo bom rendimento do elenco. Watusi, que este crítico viu como estrela no Moulin Rouge de Paris, no início dos anos 1980, faz sua estréia como atriz em musicais, na pele de uma dama da noite – nesta atual temporada, substitui Maria Alcina. Dona de voz potente e melodiosa, ela exibe forte presença cênica e se impõe com naturalidade como Madame China.

Visto recentemente pelo público paulistano na peça Eros Impuro, Jones de Abreu interpreta o advogado Odilon na fase madura e surpreende pela bela voz e atuação desenvolta. Camila Guerra se desvencilha com segurança dos papéis de Margot e da cafetina Madame Pommery. Coube à Tainá Baldez (Adelina e Cabeluda) uma das mais belas cenas do musical. Ao entoar Uma Lágrima, incorporada de Adelina, ela se transforma delicadamente em Madame China (Watusi) – a canção é interpretada pelas duas até o estribilho. Luiz Felipe Ferreira (Odilon jovem e o filho Matias), Gabriela Correa (Susie) e Renato Milan (cantor de rádio e Juiz) entregam performances corretas e se credenciam como promessas do teatro musical. Vale destacar o trabalho de Rodrigo Mármore, que retrata o meio doidão e psicodélico Jimmy externando alta voltagem de humor.   

Competente, a equipe técnica reunida exerce influência positiva sobre o resultado final. Maria Carmen Souza projetou cenários criativos, realçados pela iluminação de Vinicius Ferreira. Os figurinos, de Roustang Carrilho, são adequados e vistosos – aqui em São Paulo contou com a supervisão de Jones de Abreu, também criador do requintado guarda-roupa de Watusi. Coreógrafa do prestigiado grupo brasiliense Endança, Márcia Duarte desenvolveu movimentos que ganham expressividade no palco. Uma entrosada banda de quatro músicos, com Alex Souza (violão) na direção musical, brilha na execução da trilha sonora.  

Ao que parece, e isso pode ser uma boa notícia, o teatro musical ameaça extrapolar o eixo Rio-São Paulo, centros já consagrados do gênero, e alargar suas fronteiras.

(Vinicio Angelici - O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. )

(Foto Alexandre Magno)

 

Avaliação: Bom

 

Eu Vou Tirar Você Deste Lugar – As Canções de Odair José

Texto e Direção: Sérgio Maggio

Elenco: Watusi, Jones de Abreu, Camila Guerra e outros

Estreou: 20/11/2014

Centro Cultural Banco do Brasil (Rua Primeiro de Março, 66, Centro. Fone: 21.3808-2020). Quarta a domingo, 19h. Ingresso: R$ 10. Até 05 de abril. 

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