EDITOR: Edgar Olimpio de Souza (O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.

 

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Teatro: Cruel

Na dramaturgia do sueco August Strindberg, homens e mulheres são inimigos mortais e estão em permanentes embates destrutivos, duelos que parecem nunca cessar. Para este mestre do conflito psicológico, ambos não podem coexistir em pé de igualdade. Trata-se de uma visão pessimista, claro, acerca dos seres humanos. Nesta peça, que deixa entrever o caráter misógino de sua obra ou a sua perplexidade diante do nascimento de uma nova mulher, o vigoroso estudo da crueldade humana emerge a partir de uma trama que se passa num hotel de praia, em meio à repressão social de 1890. Com direção de Elias Andreato, o espetáculo tem como eixo um tortuoso triângulo amoroso. No palco, três personagens estão enredados em um jogo perverso. O pintor Adolfo (Erik Marmo, que privilegia o perfil patético do personagem) é o marido apaixonado e ao mesmo tempo inseguro pela possibilidade de perder a mulher Tekla (Maria Manoella, incisiva e de forte presença cênica), uma escritora que está em seu segundo casamento e se comporta como mulher livre, afirmando o seu próprio desejo. Ele recebe a visita do professor Gustavo (Reynaldo Giannechini, ainda refém de códigos naturalistas de interpretação), que conquistou sua confiança e esconde dele o fato de ter sido casado com Tekla – a escritora o havia difamado em seu livro, registrando suas falhas no casamento.

Nunca os três personagens estão simultaneamente em cena. O que ecoa dos duplos encontros desconcertantes é um quadro de cruéis manipulações. A escritora está novamente em pleno exercício de desidratar o segundo marido. Ardiloso e de retórica virulenta, Gustavo envenena o novo amigo aos poucos, mostrando a ele que a felicidade em seu casamento é ilusória. Adolfo é uma figura vulnerável no campo emocional, dado à crises de epilepsia, presa fácil para o assassinato psicológico à que é submetido. Os conflitos, até então latentes, vão emergindo. O retrato deste inferno minimalista incorpora traços claustrofóbicos nesta afinada encenação de Andreato. A montagem equilibra-se entre o clima tenso e o ímpeto das palavras. O diretor realça a guerra psicológica que se desenha aos poucos, sublinhando a violência dos diálogos. A ação começa de forma lenta e se constrói baseado em confrontos verbais, com desenlace trágico. Envolvido pelo incômodo da situação, o público é convidado a espreitar esse laboratório de sentimentos humanos, em que o impacto da conversa é fermentado pelo refinamento dos argumentos em torno de temas como livre arbítrio, o destino, a natureza e o sexo. No texto, que originalmente se chama Os Credores, Strindberg alerta sobre o perigo de se permitir que um personagem mine as forças de outro. Adolfo, Gustavo e Tekla estão condenados à desilusão e ao absurdo da existência, encalacrados em um mundo do qual não conseguem se libertar. O trio patina em dívidas intelectuais e emocionais. Os dramaturgos americanos Neil Labute e David Mamet, dois dos maiores autores contemporâneos, também trabalharam a idéia do canibalismo, com personagens que consomem uns aos outros. O mundo avança, mas seus habitantes continuam se autodestruindo.  

(Edgar Olimpio de Souza – O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. )

(Foto João Caldas)

 

Avaliação: Bom

 

Cruel

Texto: August Strindberg

Direção: Elias Andreato

Elenco: Reynaldo Giannechini, Erik Marmo e Maria Manoella.

Estreou: 27/06/2011

Teatro Faap (Rua Alagoas, 903, Higienópolis. Fone: 3662-7198). Quinta a sábado, 21h; domingo, 18h. Ingresso: R$ 60 a R$ 80. Até 08 de setembro.

 

 

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