EDITOR: Edgar Olimpio de Souza (O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.

 

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Teatro: 3 Casas

A São Paulo das décadas de 1930 e 40 retratada nos contos de Alfredo Mesquita (1907-1986) é uma cidade que ao mesmo tempo em que se verticaliza vai perdendo sua humanidade. Casarões caem e cedem lugar a novas paisagens. Famílias até então unidas fragmentam-se. A prosa em meio a tardes de chás é substituída pela pressa e falta de tempo. O que a peça trata é justamente desse mundo em ebulição. Tocante em diversas passagens, mas irregular no todo, a montagem dissolve cinco contos de autoria do fundador da estratégica Escola de Arte Dramática (EAD) em três histórias adaptadas e dirigidas por três autores convidados. É a faceta de contista observador da realidade que sobe ao palco, homenagem carinhosa a uma das personalidades mais importantes das artes cênicas do País. Em cena, uma dramaturgia de atmosfera surpreendente, contaminada de pequenos rituais, tragédias particulares e velórios inusitados. Por meio desses contos, Mesquita desnudava costumes e hábitos de uma metrópole em crescimento, tecendo uma reflexão a partir de sua perplexidade diante do rumo das coisas. O quadro social a que se refere não surge abstrato, porém como um organismo vivo em que os fatos se misturam às reações dos personagens.  

As três breves tramas são costuradas por uma encenação bastante teatral, que supera com alguns méritos a complicada tarefa de obter unidade estética a partir de visões divergentes. Cada autor/diretor trabalhou segundo seu olhar autoral, experiência pessoal e imaginário poético. O resultado, se não chega ao refinamento narrativo, preserva algum tipo de identidade. Os enredos até poderiam ser vistos separadamente, mas ganham um sentido maior se apreciados em conjunto. Nosso Filho,de Gabriela Rabelo, relata as desventuras de um casal em uma típica vila paulistana. Como não conseguem ter filhos, o marido pede a um amigo para que engravide a sua mulher. O absurdo do entrecho é vazado com bom humor. Calixto de Inhamuns escreveu Esperança de Família, junção de dois contos,queentrelaçaa história de uma família disposta a arranjar um bom casamento para a filha e a participação indecente de um tio em uma orgia com primas mortas. Há um diálogo curioso entre as duas tramas. Em Xale Roxo, de Paulo Faria, a cidade é flagrada em plena mutação, em sua gênese de violência, com personagens como um corretor de imóveis inescrupuloso e uma moça voluptuosa. O mesmo elenco está presente em todas as tramas, em rodízio na composição de todas as figuras. Muitas vezes o personagem de uma história faz a conexão com outra, unindo os dois universos.

À vontade em seus papéis, os atores exibem boas interpretações. Isadora Ferrite encarna desde uma esposa frustrada por não ter filhos a uma mãe de família com dificuldades para superar a perda da filha. Davi Reis vive com desembaraço um motorista galanteador e o filho ignorado de uma família. Thais Aguiar assume tanto uma jovem que procura marido a uma tia orgulhosa. Valdir Rivaben faz o marido frustrado e o pai de família pouco presente. Luti Angelelli destaca-se como o vizinho fofoqueiro e o tio perdido em noitada de sexo. São tipos, mais que personagens, que exigem versatilidade dos intérpretes, bem-sucedidos nessa missão. Se o dramaturgo russo Tchecov abordava as chagas e feridas sociais de forma implícita, em sua obra Mesquita optou por escancarar os estigmas. Em que pese a leveza da montagem, nota-se um certo tom de angústia do autor em relação às transformações em andamento na cidade de São Paulo a partir de 1929. Seu pessimismo ao desmantelamento da sociedade é visível nos diálogos dos personagens. Um deles chega a desabafar que, no beco sem saída para aonde o mundo foi atirado, todos mergulharam num processo de apodrecimento.

(Edgar Olimpio de Souza O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. )                                                                      

(Foto Divulgação)

 

Avaliação: Bom

 

3 Casas

Texto e Direção: Calixto de Inhamuns, Gabriela Rabelo e Paulo Faria.                                        

Elenco: Isadora Ferrite, Davi Reis, Thaís Aguiar, Luti Angelelli e Valdir Rivaben.                                            

Estreou: 19/05/2011                                                                                                           

Teatro Commune (Rua da Consolação, 1218, Consolação. Fone: 3476-0792). Terça e quarta, 21h. Ingresso: R$ 30. Até 26 de outubro.

 

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