EDITOR: Edgar Olimpio de Souza (O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.

 

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Teatro: Maldito Benefício

Leonardo Cortez vem se firmando como um dos melhores autores teatrais brasileiros. Seus textos anteriores, entre eles, Escombros, O Rei dos Urubus e Rua do Medo, já sinalizavam a acidez com que costuma enxergar a sociedade. Nesta tragicomédia com hálito de crítica social, é possível vislumbrar uma trama que mistura ingredientes de drama e humor, com pitadas de melodrama. A peça destrava a história de um jogador de futebol, Tião (Leonardo Cortez), que vê arruinado seu sonho de se tornar um craque ao sofrer séria contusão. Obrigado a abandonar a profissão, passa a ganhar a vida como taxista, dirigindo o carro que pertence ao cunhado Nunes (Daniel Dottori). Não bastassem a dureza e os minguados rendimentos da nova atividade, ele ainda precisa ajudar o pai Nelson (Ricardo Côrte Real), um velho aposentado na fila do SUS à espera de um transplante, e dar conta das despesas advindas da gravidez da sua mulher, Teresa (Gláucia Libertini). Tudo parece mudar quando o progenitor recebe um comunicado da Previdência Social, informando-o da concessão de um benefício acumulado. A perspectiva de um futuro próspero para uma família em crise financeira, no entanto, deflagra uma série de conflitos, qüiproquós e atitudes nada generosas.   

O diretor Marcelo Lazzaratto conseguiu armar um espetáculo vibrante e de ritmo fluente, extraindo proveito da comicidade natural do texto, sua narrativa direta e de personagens reconhecíveis em nosso cotidiano. Ele obteve também bom rendimento dos atores. Leonardo Cortez arrebata no papel do resignado e frustrado jogador de futebol. Carismático e com larga experiência na televisão, o ator e humorista Ricardo Côrte Real faz sua estréia nos palcos. Mesmo em outro registro de interpretação, ele destila desenvoltura na pele do velho à beira da morte, um sujeito desbocado e autopiedoso que subitamente percebe uma possibilidade de redenção em sua vida. Daniel Dottori e Gláucia Libertini, os irmãos Nunes e Teresa, completam o elenco empinando interpretações corretas e seguras.

Também responsável pelo eficiente desenho de luz, Lazzaratto optou por uma encenação não realista e criou, em parceria com Zé Valdir, um cenário minimalista que sintetiza em um só espaço os três ambientes propostos no texto - açougue, sala de estar e táxi. O automóvel é um Alfa Romeo branco, ano 1973, cortado ao meio. Se de frente para a platéia funciona como táxi, visto lateralmente, com capô aberto, transforma-se em açougue e, observado por trás, vira uma sala de estar. Sempre meticulosa em seus trabalhos, Marichilene Artisevskis elaborou figurinos adequados e reveladores da personalidade de cada um. O espetáculo é pontuado pela bela trilha sonora assinada por Daniel Maia, com destaque para o som de guitarras distorcidas que procuram expressar a angústia do protagonista. Especialmente elaborados para a montagem, comentários futebolísticos de Wanderley Nogueira e narrações de jogos de José Silvério, conhecidos jornalistas esportivos de rádio, temperam a trama. Nesta comédia despretensiosa, Cortez se vale do futebol como alegoria para a discussão de questões sociais, exposição da relação pai e filho e estudo do comportamento humano.

(Vinicio Angelici – O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. )

(Foto Divulgação)

 

Avaliação: Bom  

 

Maldito Benefício

Texto: Leonardo Cortez

Direção: Marcelo Lazzaratto

Elenco: Leonardo Cortez, Ricardo Côrte Real, Gláucia Libertini e Daniel Dottori.

Estreou: 16/05/2014

Centro Cultural São Paulo (Rua Vergueiro, 1.000, Liberdade. Fone: 3397-4002). Sexta e sábado, 21h; domingo, 20h. Ingresso: R$ 20. Até 29 de junho.                                             

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