EDITOR: Edgar Olimpio de Souza (O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.

 

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Teatro: Ciranda (RJ)

É do confronto entre mãe e filha com visões completamente distintas da vida e de como o destino pode provocar mudanças duras que se alimenta o novo texto da jornalista Célia Regina Forte (Amigas, Pero no Mucho). A ciranda a que se refere o título é a roda das relações cheias de atritos e incompreensões que move três gerações de mulheres de uma mesma família. Não se trata, porém, de um drama rasgado, mas de uma comédia singela com diálogos que, se não exibem grau aprofundado de sofisticação, escorrem de forma natural e com indisfarçáveis ingredientes de sabor e aroma folhetinescos – uma reveladora carta e a reaparição redentora de uma personagem sinalizam o apreço pelo clichê. Tudo se passa dentro da casa da mãe, uma eterna hippie desconectada da realidade, que leva a vida como se o tempo tivesse sido congelado nas décadas de 1960 e 70. Seu comportamento carrega o voluntarismo e a visão coletiva daquela época. A descompromissada e idealista Lena tem uma filha chamada Boina, homenagem ao revolucionário Che Guevara, uma executiva bem sucedida e obcecada pelo poder e dinheiro, casada com um americano e mãe de uma menina pequena chamada Sara. Ela é o retrato dos tempos egocêntricos de hoje. Um evento inesperado e a história salta quinze anos no tempo, período no qual ambas não se vêem e Sara é criada pela avó. Boina retorna em busca da reconciliação, descobre que a mãe morrera e é obrigada a conviver com a filha, agora uma adolescente que reproduz o comportamento desencanado de Lena. Além de estabelecer os contrapontos entre ideologias e formas de se viver, a peça tem a intenção de mapear a trajetória da mulher, num arco que começa com o engajamento político, passa pela contracultura, abraça o individualismo alienante e desemboca no cinismo atual.              

Estes três personagens em diferentes estágios de suas vidas são revezados pelas atrizes Tania Bondezan (Lena e Boina madura) e Daniela Galli (Boina jovem e Sara adolescente). O recurso engenhoso permite que ambas interpretem figuras de temperamentos opostos e façam o caminho inverso ao longo da peça. Se até a ruptura da trama o personagem de Tânia defendia certas convicções, após o salto temporal ela assume o papel de alguém que contesta aquele discurso, o mesmo ocorrendo no caso de Daniela. É um exercício que elas enfrentam com desenvoltura, exuberância e carisma, eventualmente escorregando em trejeitos mais caricatos. O trabalho das atrizes é realçado pela direção discreta de José Possi Neto, que prioriza o jogo proporcionado pelo choque de gerações. A produção é super caprichada. Fábio Namatame decorou as paredes com telões de cores fortes que reproduzem quadros e pôsteres dos anos 1960 e 70, causando grande impacto. Abusa também de almofadas, samambaias e objetos da era hippie. Ele assina também os figurinos, destacando-se os modelitos psicodélicos envergados pela personagem Lena. Wagner Freire contribui com uma iluminação perfeita e a bonita e eficiente trilha sonora ficou a cargo da dupla imbatível Tunica e Aline Meyer. Trata-se de um espetáculo que não se intimida em tecer uma afetuosa reflexão sobre o Brasil nas últimas décadas através do olhar de três gerações em conflito.  

(Vinicio Angelici - O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. )

(Foto João Caldas)

 

Avaliação: Bom 

 

Ciranda

Texto: Célia Regina Forte

Direção: José Possi Neto

Elenco: Tania Bondezan e Daniela Galli

Estreou: 16/07/2011

Teatro do Leblon (Rua Conde Bernadotte, 26, Leblon. Fone: 21. 2529-7700). Sábado, 19h; domingo, 20h. Ingresso: R$ 60. Até 04 de agosto.

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