EDITOR: Edgar Olimpio de Souza (O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.

 

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Teatro: O Mágico de Oz

Em uma das cenas, um efeminado Leão Covarde conta não ter notado que havia sentado na lata de óleo do Homem de Lata. Maliciosa, claro, a piada é uma tentativa de contrariar o senso comum de que a história é voltada exclusivamente para o público infantil. É uma das preocupações visíveis desta produção brasileira, inspirada na única adaptação autorizada para o teatro, operada pela Royal Shakespeare Company, por sua vez bastante fiel ao filme de 1939 dirigido por Victor Fleming e estrelado por Judy Garland. A montagem da consolidada dupla Charles Moeller e Cláudio Botelho não esconde a intenção de seduzir platéias mais maduras também. Se não plenamente satisfatória, ao menos atrai os adultos pela competência com que é construída.

Com o arcabouço de um conto de fadas, a trama de Lymam Frank Baum tem como personagem central a garota Dorothy Gale, que vive em uma pacata fazenda americana ao lado de seu tio Henry e sua tia Em. Seu único amigo é o cão Totó – três cães da mesma raça se revezam no papel e foi reservado até um camarim para eles. Certa feita ele foge, a menina sai em seu encalço e é pilhada por um tornado, que a transporta para o mundo de Oz. Neste universo desconhecido, povoado por seres fantásticos, ela cruza com figuras como o Espantalho, o Homem de Lata e o Leão Covarde. Como o seu maior desejo é retornar para casa, precisa encontrar um mágico para lhe ensinar o caminho. Reunida, a turma seguirá pela Estrada dos Tijolos Amarelos e terá de enfrentar, além de seus próprios medos, as vilanias da temida Bruxa Má do Oeste.

Na direção, Moeller demora um pouco para encontrar o tom adequado e o espetáculo flui com certa lentidão em sua primeira parte, problema contornado a partir do momento em que a história passa a ter como espaço o reino de Oz. Ele precisa lidar com catorze cenários e múltiplos efeitos especiais, até com uma cena em que a bruxa derrete. Com o habitual talento, Botelho traduziu as letras, preservando a essência das composições de Harold Arlen (músicas) e E. Y. Harburg (letras). Bem equilibrado, o elenco junta nomes conhecidos dos musicais brasileiros e estrelas da televisão. Malu Rodrigues tem voz afinada e empresta suavidade à menina que precisa tanto encontrar o cachorrinho quanto conquistar autoconfiança. O Espantalho é vivido com desenvoltura e brilho por André Torquato, ator que vem se destacando no cenário musical. Nicola Lama surpreende pela composição do Homem de Lata, valorizando as expressões corporais e vocais. Com verve humorística, Lúcio Mauro Filho imprime um registro afetado, quase estereotipado, ao Leão Covarde. Estreante no gênero, Heloísa Perissé dá vida à Bruxa Má do Oeste, uma figura deprimida e mergulhada em dilemas existenciais, cujas intervenções são hilárias. Ela se vale de gírias e uma maneira de falar em sintonia com a realidade de hoje e “desaparece” sob impressionante maquiagem, confirmando o talento de Beto Carramanhos no visagismo. Luiz Carlos Miele, intérprete do mágico que acompanha indiretamente as andanças de Dorothy, é uma presença vistosa no palco, marcado pela elegância, gestos mínimos e tom afetuoso - ele ganhou especialmente uma canção não prevista no original. Bruna Guerin, no papel da Bruxa Boa, oferece desempenho correto.

A equipe técnica selecionada por Moeller e Botelho se revela afinada com a proposta e dá conta com talento de sequências como a do tornado, a aparição das bruxas e o vôo da menina. Rogério Falcão compôs cenários bonitos e grandiosos. O estilista Fauze Haten, cada vez mais presente no teatro, acertou na criação dos trezentos figurinos - a armadura do Homem de Lata e a roupa da bruxa malvada, toda feita de ataduras pretas, são pontos altos do trabalho. Alonso Barros desenhou as inspiradas coreografias, pensadas de acordo com a personalidade dos personagens. Merece elogios também a direção musical de Marcelo Castro. A iluminação de Paulo César Medeiros é bem urdida. No conjunto, o espetáculo agrada pela mensagem tradicional e familiar de que a nossa casa, no fundo, é o melhor lugar que existe. Nesta fábula com aspirações psicológicas e até filosóficas, os personagens querem amar e ser amados.  

(Vinicio Angelici - O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. )

(Foto: Guga Melgar)

 

Avaliação: Bom         

 

O Mágico de Oz

Texto: Lymam Frank Baum

Músicas: Harold Arlen

Letras: E.Y. Harburg

Direção: Charles Moeller

Elenco: Malu Rodrigues, Lúcio Mauro Filho, Heloísa Perissé e outros.

Estreou: 22/02/2013

Teatro Alfa (Rua Bento Branco de Andrade Filho, 722, Jd. Dom Bosco. Fone: 5693-4000. Sexta, 21h30; sábado, 16h e 20h; domingo, 15h e 19h. Ingresso: R$ 40 a R$ 180. Até 26 de maio.

 


 


 

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