EDITOR: Edgar Olimpio de Souza (O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.

 

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Cinema: Border

Um conto de fadas sombrio e idiossincrático, que perverte as convenções de gênero. Protagonizado por dois personagens misantropos, de feições animalescas e um sentimento palpável de inadequação social. Vencedor do prêmio de melhor direção da mostra Um Certain Regard em Cannes, no ano passado, o peculiar filme de Ali Abbasi, diretor iraniano radicado na Dinamarca, emplaca reflexões importantes acerca das fronteiras entre gêneros, entre humanos e monstros, entre o bem e o mal. 

Com um rosto grosseiro, dentes proeminentes amarelados e certo ar repugnante, Tina (Eva Melander) é uma empenhada agente alfandegária dona de olfato extraordinário, que a faz cheirar tanto emoções humanas, como medo e culpa, quanto comportamentos criminosos. Em seu trabalho, dispensa o uso de detectores de metais ou equipamentos de raios-x na hora de identificar passageiros que portam bebidas alcoólicas ou produtos de contrabando. Se algo a agita, chega a grunhir em silêncio. Tina flagra, por exemplo, alguém que carregava arquivos digitais com pornografia infantil, que acaba preso durante a inspeção.

Sua rotina fora dali também escapa da normalidade. Ela divide uma remota cabana no bosque com um sujeito parasita e meio hippie, que cria e adestra cachorros para competir em rinhas de luta em casas de aposta. Durante seus passeios pela natureza, a solitária Tina estabelece uma conexão especial com animais selvagens - raposas e alces - e dá mergulhos nas águas geladas de um lago nas redondezas.  

À certa altura, no emprego, um viajante, com as mesmas características físicas, irá despertar nela dúvidas e apreensão. Porque ela fareja algo de errado e secreto nele, mas não consegue saber exatamente de que se trata. Vore (Eero Milonoff) é essa figura esquisita, de hábitos estranhos, que estuda e coleta larvas de insetos, além de usá-los em sua dieta. Uma versão masculina de Tina.     

A partir daí o longa passa a trilhar dois caminhos. Recrutada pelas autoridades superiores, ela começa a atuar na investigação da organização de pornografia infantil. Ao mesmo tempo, movida pela curiosidade e atração, aprofunda sua relação carnal e emocional com o enigmático homem. Ambos têm uma misteriosa cicatriz na região lombar e pertencem a uma casta especial de criaturas fantásticas, os Trolls. Um segredo do passado que o pai dela, internado com demência em uma clínica, sabia.  Na mitologia nórdica, tais seres míticos são caçados desde os anos 1970 para servirem de cobaias de experimentos científicos.

Uma das leituras possíveis é que Vore e Tina buscam uma espécie de vingança contra os humanos, vistos como uma raça predadora e cínica que precisa ser erradicada do planeta. E que já se encontra em pleno processo de autodestruição - daí a subtrama da pornografia infantil, símbolo de uma doença, e a referência à briga de cães. O espectador está diante de uma fábula excêntrica, adensada por ingredientes de romance, realismo mágico, folclore escandinavo e horror sobrenatural. Mas surpreendentemente humanista, encharcada de subtextos políticos e sociais. 

(Edgar Olimpio de Souza – O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. )

(Foto Divulgação)

 

Avaliação: Ótimo

 

Border

Título Original: Gräns (Suécia / Dinamarca, 2018)

Gênero: Fantasia / Drama, 108 min

Direção: Ali Abbas

Elenco: Eva MelanderEero Milonoff, Jorgen Thorsson e outros.

Estreou: 11/04/2019

 

Veja trailer do filme:

 

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