EDITOR: Edgar Olimpio de Souza (O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.

 

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Teatro: A História de Nós 2

As eternas diferenças entre homens e mulheres em relacionamentos é tema habitual no cinema, teatro, literatura e televisão. O que o despretensioso texto de Licia Manzo busca aqui é borrifar o assunto com frescor, comunicabilidade e diálogos construídos com humor e vivacidade. O público ri e chega a se comover. Prestes a completar três anos em cartaz, a peça, que reestréia em janeiro na capital paulista, não abre mão dos clichês e lugares-comuns de uma convencional comédia romântica. Ao contrário até, vale-se de seus códigos para dissecar uma relação amorosa que começa como um sonho, desenvolve-se cheio de previsíveis intempéries e culmina em dolorosa separação. A autora acompanha esse script registrando sentimentos e emoções, contraditórios ou não, vinculados ao amor, maternidade e carreira profissional.

Não se trata de um estudo profundo ou de uma abordagem inusitada sobre o casamento e seus paradoxos, mas apenas de um olhar afável sobre a difícil arte de se viver sob o mesmo teto. Simples e plausível, a trama tem início quando Edu, separado de Lena há algum tempo, volta ao apartamento para buscar seus pertences. É o pretexto que faltava para um ajuste de contas cômico, no qual ambos tentam desvendar as razões do desenlace. Ou melhor, descobrir quem, afinal, é responsável pela ruptura conjugal. Na condição de testemunha ocular, o espectador vislumbra a desidratação do relacionamento ao longo dos anos, as armadilhas da rotina, as frustrações, manias e incompatibilidades, a nostalgia da juventude perdida, os vários papéis que os dois vão assumindo e desempenhando – o (a) amante exaltado (a), o pai distante, a mãe impulsiva, o (a) profissional ansioso (a). Reunidos, estes personagens entram em conflito, se emaranham, tornam-se indivisíveis. No fundo, com doses de aturdimento e amarga resignação, o casal nota que a administração do tempo para com o outro não foi um exercício bem executado.   

A montagem engata uma fluência e agilidade que sublinha as camadas de emoções e a personalidade de cada um deles. O espetáculo ganharia mais oxigênio se as dimensões do teatro não fossem tão grandes, o que prejudica a intimidade com a platéia e limita em parte a observação mais capilar da interpretação dos atores. Eficiente, cuidadosa e sem invencionices, a direção de Ernesto Piccolo concebeu marcas enxutas e guarda o mérito de não deixar nada resvalar no exagero caricatural. Ele imprime um ritmo demasiado humano no fluxo da ação, concedendo às cenas vitalidade, acento divertido e tarja emocional. O brilho da encenação é valorizado pela sintonia demonstrada pelos atores, irmanados em descontração, graciosidade e charme. Para adensar o foco e ativar o emocionalismo, o emprego do recurso audiovisual tem o condão de atrair mais ainda o público para o universo da história. 

No palco, Marcello Vale e Alexandra Richter completam-se harmoniosamente, exibindo rigoroso tempo de comédia. Um clima recíproco de colaboração e entendimento se cristaliza ao longo do espetáculo. Na composição da atriz, a instável Lena desponta mais contida no modo como extravasa as facetas da mulher contemporânea. No desenho do ator, o elétrico Edu emerge dividido entre a euforia da juventude e a difícil missão de amadurecer e é exímio na maneira como desfia suas observações sobre as diferenças entre os gêneros. A coreografia dos movimentos favorece o trabalho dos dois intérpretes. Discreta e funcional, a cenografia de Clivia Cohen compõe-se de módulos de madeira que simulam os móveis e a cama do apartamento. Os figurinos, de Cao Albuquerque, traduzem a personalidade e estrato social dos personagens. Assinada por Maneco Quinderé, a iluminação aposta na simplicidade estudada. Trata-se de uma montagem solar, com personagens no fio da navalha entre as necessidades do amor e as exigências da vida moderna. Antes de escrutinar a guerra dos sexos, a peça evidencia de forma humorada a sempre complicada tarefa de se encontrar o meio termo.      

(Edgar Olimpio de Souza – O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. )                                                                    

(Foto Dalton Valério)

 

Avaliação: Bom

 

A História de Nós 2                                                                                                                      

Texto: Lícia Manzo                                                                                                                      

Direção: Ernesto Piccolo                                                                                                

Elenco: Alexandra Richter e Marcelo Valle                                                                            

Estreou: 02/09/2011                                                                                                                      

Teatro Gazeta (Av. Paulista, 900, Cerqueira César. Fone: 3253-4102). Sexta, 21h; sábado, 20h; domingo, 18h. Ingresso: R$ 60 e R$ 70. Até 26 de fevereiro de 2012.

 

 

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