EDITOR: Edgar Olimpio de Souza (O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.

 

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Cinema: Holy Motors

Treze anos depois, o cineasta francês Leos Carax (Os Amantes de Ponte Neuf) retorna ao cinema com uma comédia bizarra, absurda e cheia de signos ocultos. Não se trata de um filme fácil e o público será mergulhado em uma história desalinhada, não convencional e crivada de excentricidades. O ator Denis Lavante interpreta um misterioso empresário que trabalha para uma obscura organização pilotada por um chefe de bigode (Michel Piccoli), em rápida aparição. Monsieur Oscar, essa figura camaleônica, circula por uma Paris irreconhecível, acomodado no banco traseiro de uma limusine branca, dirigida pela amiga e motorista de confiança, Céline (Edith Scob). O protagonista precisa cumprir uma série de compromissos e trabalhos ao longo do dia, que requerem uma metamorfose estética. Para cada atividade, ele vai se valer de um disfarce. Não por acaso, o imenso carro abriga uma espécie de camarim de teatro, com espelho, figurinos, adereços e maquiagem.  

O longa tem início quando, ao despertar, M. Oscar abre uma porta secreta em seu apartamento e caminha por um auditório de cinema lotado, onde um enorme cachorro também vagueia pelos corredores. A partir daí, ele irá encarnar fisicamente uma série de personagens bastante diferentes entre si. Como um banqueiro, uma velha mendiga corcunda, um assassino cruel, um tio em fase terminal despedindo-se de sua sobrinha, um acrobata enfiado em um macacão high-tech que simula sexo com uma atriz em um estúdio. Em determinada cena, ele dá vida à Merde, uma estranha criatura que emerge dos esgotos da cidade, come flores e adora atazanar os cidadãos, já visto no filme Tokyo! – aqui, ele sequestra uma modelo arrogante (Eva Mendes) durante uma sessão de moda e a conduz para a sua caverna úmida subterrânea. A galeria de figuras extravagantes não para por aí. Ele ainda terá um encontro comovente com uma mulher, ex-amor do passado, vivida por Kylie Minogue. Em outra sequência, ele se torna um pai severo apanhando sua filha adolescente em uma festa.

Nesse enigmático quebra-cabeças povoado de seres esquisitos, o diretor parece abordar de forma satírica a crise e a dissolução da identidade nos tempos atuais. Ninguém é o tempo todo uma única persona, mas uma série delas, de acordo com o desejo e o estado de espírito. Por meio dessa sucessão de máscaras grotescas assumidas pelo personagem central, o longa deixa entrever também um comentário satírico e sutil sobre a artificialidade das relações humanas, sobre a nossa necessidade de estar sempre em busca de uma nova característica ou circunstância de vida, uma ânsia de escapar da prisão da unidimensionalidade. Carax expõe um conceito que o dramaturgo italiano Luigi Pirandello exercitava em suas peças: a de que a criatura humana se desdobra nas diversas imagens que oferece aos outros, definindo-se pelas aparências. É um filme ousado, afeito a surpresas, labiríntico, que requer tolerância para com a narrativa incomum. Aqui e ali detectam-se influências dos escritores ingleses J.G. Ballard (Crash) eLewis Carroll (Alice no País das Maravilhas) e dos cineastas Fritz Lang (M, o Vampiro de Dusseldorf) e David Lynch (A Cidade dos Sonhos). Por isso o expectador em busca de um sentido lógico para a trama pode se decepcionar. Há uma sensação de que se está sempre caminhando entre o sonho e o pesadelo, a realidade e a alucinação.

(Edgar Olimpio de Souza)

(Foto Divulgação)

 

Avaliação: Bom

 

Holy Motors

Título Original: Holy Motors (França, 2012)

Gênero: Drama, 115 min

Direção: Leos Carax

Elenco: Denis Lavant, Edith Scob, Eva Mendes e outros.

Estreou: 30/11/2012

 

Veja trailer do filme:

 

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