EDITOR: Edgar Olimpio de Souza (O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.

 

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Teatro: As Bruxas de Eastwick

Neste musical, inspirado no romance do escritor americano John Updike (1984), a cultura do politicamente correto é simplesmente implodida e o lado sombrio do comportamento humano assombra uma sociedade marcada por um rígido código moral, a dos Estados Unidos dos anos 1950. O texto ganhou as telas (1987), em um filme estrelado por Cher, Susan Sarandon, Michelle Pfeiffer e Jack Nicholson, e estreou nos palcos londrinos em 2000, com música de Dana Rowe e roteiro de John Dempsey. Assinada pela dupla Charles Moeller e Cláudio Botelho, a versão brasileira não ignorou a leitura crítica do autor, mas transformou essa satírica crônica de costumes em uma irreverente e sensual montagem. A história é ambientada em um provinciano e puritano vilarejo, onde todos conhecem literalmente todos. Ali vivem três amigas solitárias que rogam aos deuses por um homem que possa mudar suas rotinas previsíveis. Ele aparece na figura do misterioso Darryl van Horne, capaz de atiçar seus desejos e transformar suas vidas – a súbita aparição e o envolvimento amoroso dele com o trio não só irá chocar a pequena cidade como convulsionar a amizade que unia as três personagens femininas – Updike gosta de trabalhar em seus romances com a idéia de que o sexo pode provocar atritos irreparáveis.         

Muito à vontade no papel de sedutor irresistível, Eduardo Galvão equilibra doses de sensualidade e prazer em uma performance que o credencia ao primeiro escalão dos musicais. O trio de bruxas exibe rendimento solar e vibrante. Maria Clara Gueiros, como a escultora Alex, vale-se de humor peculiar para brilhar em várias cenas. Sabrina Korgut, a musicista Jane, é dona de belíssima voz e forte presença cênica. Renata Ricci, intérprete de Sukie, que trabalha num jornal local, transpira graça e delicadeza. Com desempenho que a faz roubar cenas, Fafy Siqueira compõe a matriarca Felícia, defensora dos bons costumes, aliando técnica vocal e verve humorística. Na trama, Renato Rabelo faz o marido apatetado dela, arrancando risos com um repertório de trejeitos e maneirismos. O jovem André Torquato, nome que merece atenção, repete a boa atuação de outros trabalhos e tem como parceira de cena a atriz Clara Verdier– ambos formam um casal adolescente de namorados, contraponto romântico aos demais relacionamentos maliciosos e apimentados do enredo. Vale destacar também o desempenho luminoso de Isabella Moreira, de apenas 10 anos, que impressiona pelo desembaraço em suas poucas e pontuais inserções. Ao contracenar com Renata Ricci, chega a ser aplaudida entusiasticamente.

A cenografia de Rogério Falcão reproduz com perfeição o marasmo de uma localidade que parece aprisionada no tempo, utilizando-se de quinze cenários de grandes dimensões para retratar uma arquitetura sóbria e convencional. O tarimbado figurinista Marcelo Pies concebeu 250 figurinos que se destacam pela beleza e criatividade. A iluminação, do sempre competente Paulo César Medeiros, contribui para manter o clima de magia do espetáculo. A excelente coreografia de Alonso Barros imprime vitalidade e picardia à montagem, especialmente nas sequências coletivas. Responsável pelos ótimos efeitos especiais, Heitor Cavalheiro eletriza numa cena em que as bruxas sobrevoam a platéia. Uma orquestra formada por nove instrumentistas, com regência de Guilherme Terra e supervisão do diretor musical Marcelo Castro, embala a montagem com canções que enunciam vários estilos de rock dos anos 1960. O diretor Moeller desenha uma encenação de atmosfera mágica, regada a trilha sonora esfuziante e eficientes números de dança. Um musical alegre de evidente apelo feminino que, sem precisar de discurso direto, articula nas entrelinhas uma crítica a um tipo regressivo de moralismo.    

(Vinicio Angelici - O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. )

(Foto Marcos Mesquita)

 

Avaliação: Bom 

 

As Bruxas de Eastwick

Texto: John Updike

Adaptação e Direção cênica: Cláudio Botelho e Charles Moeller

Direção musical: Marcelo Castro

Elenco: Eduardo Galvão, Maria Clara Gueiros, Sabrina Korgut, Renata Ricci e outros.  Teatro Bradesco (Shopping Bourbon. Rua Turiaçu, 2.100, Perdizes. Fone: 4003-1212). Quinta e sexta, 21h; sábado, 17h e 21h; domingo, 16h e 20h. Ingresso: R$ 10 a R$ 190. Até 11 de dezembro.

Estreou: 14/08/2011

 

Veja cena do espetáculo:

 

 

 

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