EDITOR: Edgar Olimpio de Souza (O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.

 

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Teatro: Quase Normal

No início, o espectador poderá estranhar um pouco a estrutura do espetáculo porque, diferentemente de outros musicais da Broadway, este não se apóia em coreografias rebuscadas e efeitos especiais. Sua força e energia residem na autenticidade do enredo e nas canções tão intensas quanto suaves – as letras funcionam como diálogos informais e estão a serviço da evolução da história. A peça nasceu de um experimento teatral curto, realizado em 2008 por Brian Yorkey (texto e letras) e Tom Kitt (música), sobre uma mulher submetida a tratamento psiquiátrico. No ano seguinte, a dupla concebeu uma trama que explodiu no circuito alternativo e desembarcou com sucesso de crítica e público na Broadway.

Trata-se de uma espécie de ópera rock sem dança, lírica e poética, com elementos, nuances e códigos do melodrama. Como eixo central, uma família em processo de fragmentação por conta de uma personagem devastada por distúrbios emocionais. Ela é Diana, que sofre de depressão e bipolaridade desde a perda do filho ainda pequeno. Sem conseguir superar as dores do passado, consome medicamentos de tarja preta e enfrenta terapias de choque. Em esforço desmedido, o devotado marido, Dan, tenta se mostrar compreensivo e preservar a unidade familiar. Ator que tem preferido investir mais na direção, Tadeu Aguiar assina a excelente versão brasileira e tece uma encenação cheia de detalhes, com marcações eficientes e destaque para a carga emocional embutida no enredo, sem apelar para exageros visíveis. Ele ainda injeta bom humor em alguns momentos para amenizar a atmosfera depressiva que assola o cotidiano dos personagens.

Afinado, o elenco se entrega com paixão à proposta da montagem. Com bela voz e elegância, Vanessa Gerbelli Ceroni chega a comover na pele da vulnerável Diana, que perde a lucidez, sente dificuldades em aceitar a realidade e vive das recordações do passado. No papel do marido apaixonado e atormentado, na difícil condição de decidir pela internação da mulher, Cristiano Gualda tem voz segura e boa presença cênica. Como uma adolescente temperamental, ansiosa por atrair o tempo todo a atenção dos pais, Carol Futuro exibe desempenho correto, fugindo dos tiques e trejeitos caricaturais. Sem apelar para gestos fáceis, Victor Maia interpreta o seu namorado, sujeito alegre e de espírito jovial, alívio para as sequências de tensão da trama. Com sensibilidade, Olavo Cavalheiro faz o filho onipresente, que assombra a família. Incorporando dois médicos convictos de seus métodos de tratamento, Rafael de Castro (substituto de André Dias na noite de estréia) apresentou-se um pouco travado, algo que certamente irá contornar ao longo da temporada.

A montagem acerta também nos demais quesitos. Sofisticado, o cenário de Edward Monteiro é uma estrutura sólida com vários planos que facilitam a movimentação dos atores. Rogério Wiltgen assina a iluminação pontuada de climas. Os figurinos de Ney Madeira, Dani Vidal e Pati Faedo revelam adequação e bom gosto, especialmente os da protagonista. Liliane Secco desincumbe-se satisfatoriamente da difícil missão de assinar a direção musical, cuja partitura complexa passeia pelo rock, jazz, Mozart e até heavy metal. Ela também toca teclado e conduz de forma brilhante o conjunto de seis músicos. Com cenas pungentes, como a do médico que, na imaginação de Diana, se transforma em bailarino de tango, ou outra em que um dos personagens diz que o preço do amor é a perda, o espetáculo se desenvolve arrebatando o público aos poucos. Um texto delicado sobre o que nos une e o que nos separa, capaz de emocionar, sem golpes baixos e catarses, ao tratar de um tema doloroso tão contemporâneo.

 (Vinicio Angelici – O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. )  

(Foto Divulgação)

 

Avaliação: Ótimo

 

Quase Normal

Texto e letras: Brian Yorkey

Músicas: Tom Kitt

Direção e adaptação: Tadeu Aguiar

Elenco: Vanessa Gerbelli Ceroni, Cristiano Gualda, Olavo Cavalheiro e outros.

Estreou: 21/02/2013

Teatro FAAP (Rua Alagoas, 903, Higienópolis. Fone: 3662-7233). Quinta e sexta, 21h; sábado, 18h e 21h30; domingo, 18h. Ingresso: R$ 80 e R$ 100. Até 12 de maio.


Veja cenas do espetáculo:

 

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