EDITOR: Edgar Olimpio de Souza (O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.

 

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Teatro: Tim Maia - Vale Tudo, o Musical

Baseado na biografia Vale Tudo - O Som e a Fúria de Tim Maia, escrita pelo jornalista e crítico musical Nelson Motta, autor também da versão teatral, o espetáculo é um digno e vibrante produto musical brasileiro. Contada, cantada e ancorada em flash-backs, a montagem expõe a trajetória de vida do controvertido artista, um dos nomes mais emblemáticos da música popular brasileira, morto em 1998 no palco do Theatro Municipal de Niterói, no momento em que se preparava para retomar a carreira. Menino pobre do subúrbio carioca, ele cresceu atormentado pelo excesso de peso, sentia-se só, foi preso por porte de drogas e roubo de carro, viveu algum tempo no exterior, brigou, amou, ficou famoso e selou prestígio. Eventos mais do que suficientes para justificar um musical cheio de bossa em sua homenagem. Mesmo com percalços, a encenação dá conta dos principais tópicos de sua biografia e, por tabela, radiografa a evolução da MPB ao longo de algumas décadas.

Como opção, o diretor João Fonseca se valeu da fórmula convencional de passar a vida do personagem em revista diante da morte. Ele desenhou a narrativa em nichos temáticos, permeados por citações, referências e clássicos do repertório de Tim Maia, que ilustram conceitualmente cada passagem ou circunstância e buscam estabelecer uma atmosfera de acento emocional. Nem sempre, no entanto, a associação da música à dramaturgia soa com naturalidade – em determinadas passagens, o vínculo entre um e outro emerge artificial e forçado. Há também uma certa rigidez cronológica no tratamento dos fatos e episódios  que interfere na fluência narrativa e alonga a duração do espetáculo, mas o didatismo é diluído em parte pela energia transbordante emanada do palco. A encenação ressente-se ainda de uma relativa timidez ao passar batido pela conturbada relação que o artista mantinha com a Rede Globo. Tim Maia não só não se enquadrava nos padrões vigentes do mercado fonográfico, como brigava contra emissoras de tevê poderosas, a quem acusava de boicote ao seu trabalho, e colecionava desafetos entre músicos e críticos especializados.     

Sério candidato a uma coleção de prêmios de interpretação no ano, o ator Tiago Abravanel (*) é uma bem-vinda revelação aos 24 anos de idade. Inegavelmente, é ponto alto da montagem. O desafio de dar vida a um artista de índole anárquica e temperamento polêmico é enfrentado com técnica apurada, personalidade e entrega mercurial. Ele não se apóia na semelhança física ou simples reprodução de gestos e tiques. O neto do apresentador Sílvio Santos incorpora Tim Maia com partitura própria. Exibe humor, carisma, charme e vozeirão. Está ladeado por um elenco de desempenho contagiante, versátil e bastante fôlego. Os atores se desdobram em vários papéis e cada um tem o seu solo, com destaque para Izabella Bicalho, em ótima performance na pele de Elis Regina, e Lilian Valeska, que injeta simpatia à Janete, primeiro amor do artista. Reiner Tenente faz o espectador rir muito, graças a uma composição de Nelson Motta e Roberto Carlos crivada das facilidades da caricatura. Os demais personagens que passaram pela vida do cantor e compositor, como Tom Jobim, Carlos Imperial e Jorge Benjor, ganham vida no palco sem o expediente da simplificação gestual.  

Assinada por Nello Marrese, a cenografia, um tanto modesta para um musical desse porte, se utiliza de adereços, alegorias e objetos de cena de viés narrativo. É eficiente no sentido de agilizar as mudanças de ambientes e lugares, passando do palco para um estúdio de gravação, por exemplo, sem complicações. Há uma cortina que reproduz antigos discos em vinil. Preocupado em traduzir visualmente diversas épocas, Rui Cortez criou figurinos representativos da moda dos anos 1950 a 1990 e não chega a brilhar na função. Com movimentos convencionais, as coreografias de Sueli Guerra esbarram num desenho meio repetitivo. A iluminação de Paulo César Medeiros revela composição minuciosa e transpira poesia. Alexandre Elias, responsável pela direção musical, fez arranjos belíssimos que a banda, releitura da Vitória Régia, formada pelo artista em suas apresentações, executa com competência. E dá suporte às interpretações dos grandes sucessos da carreira de Tim Maia, entre eles, Do Leme ao Pontal, Primavera, Chocolate e Me Dê Motivo. Claro que não faltou Vale Tudo, cantada no início e no fim e vinheta para muitos momentos. Um espetáculo emocionante, mesmo com imperfeições, de fácil sintonia com a platéia e ironia saliente. Em determinada cena, o maior símbolo da soul music nacional e funk com tempero brasileiro diz que não fuma, não bebe e não cheira. “Meu único defeito é mentir um pouco.”

(Vinicio Angelici – O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. )                                                                              

(Foto Caio Galluci)

(*) Na atual temporada, ele foi substituído pelo ator Danilo de Moura, que também interpreta o personagem com bastante vibração, eletricidade e entrega.  

Avaliação: Bom

 

Tim Maia - Vale Tudo, o Musical

Texto: Nelson Motta                                                                                                                                  

Direção: João Fonseca                                                                                                                              

Elenco: Tiago Abravanel, Reiner Tenente, Izabella Bicalho, Lilian Valeska e outros                                                                                                                              

Estreou:09/03/2012

Teatro Procópio Ferreira (Rua Augusta, 2823, Cerqueira César. Fone: 3083-4475). Sexta, 21h30; sábado, 17h e 21h; domingo, 18h. Ingresso: R$ 50 a R$ 120. Até 25 de agosto de 2013. 

 

Veja cena do espetáculo:

 

 

 

 

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