EDITOR: Edgar Olimpio de Souza (O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.

 

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Teatro: O Que Terá Acontecido a Baby Jane?

O público nacional está tendo o privilégio de conferir a estréia mundial da inédita versão teatral deste célebre longa-metragem (1962), dirigido por Robert Aldrich e estrelado pelas divas Bete Davis (Baby Jane) e Joan Crawford (Blanche Hudson) – para quem não sabe as duas eram inimigas na vida real, o que deu tempero especial à obra. Quem responde pela empreitada no palco é a produtiva dupla Charles Moeller (adaptação) e Cláudio Botelho (tradução), pela primeira vez assinando um espetáculo não musical. Autor do romance original que migrou para a tela grande, Henry Farrel escreveu a peça em 2006, pouco antes de morrer. Quase uma década depois, a família do dramaturgo americano cedeu os direitos de montagem para os encenadores brasileiros.                                                                                  

A trama é instigante. Ex-atrizes, hoje idosas e no ostracismo, as irmãs Baby Jane (Eva Wilma) e Blanche Hudson (Nicette Bruno) vivem enclausuradas em um decadente casarão de Los Angeles, desde um trágico e mal explicado acidente que deixou a segunda, no auge profissional, presa a uma cadeira de rodas. Agora, se encontra à mercê das perversidades da companheira. Jane alcançara sucesso na infância atuando no teatro de vaudeville que, naquele tempo, rivalizava com o cinema. No entanto, durante a juventude, Blanche a superou ao triunfar em Hollywood. Por conta disso, em rota descendente, ela acabou renegada a papéis coadjuvantes em seus filmes. Na dramaturgia, como no livro, Farrel narra em detalhes o passado das duas personagens, circunstância que foi alijada na transposição cinematográfica do texto.

Moeller e Botelho conceberam uma encenação que evolui sem embaraços, impregnada tanto de tensão quanto de momentos de comicidade. E obtiveram ótimo desempenho do elenco, especialmente das veteranas intérpretes, de trajetórias consolidadas na televisão, cinema e teatro. Ambas envolvem o público de maneira natural, no papel dessas figuras que vivenciam uma relação doentia, mergulhadas em um duelo psicológico movido por ressentimentos e mágoas sem fim. Nesse jogo de gato e rato, elas se destroçam. Eva Wilma convence na composição de Jane, uma mulher cheia de recalques e pequenas vinganças. Nicette Bruno consegue transmitir a amargura de Blanche apenas pelo olhar e expressões faciais. Como personificações da memória, versões mais jovens das personagens circulam pelo espaço cênico, numa sobreposição de passado, presente e imaginação. As meninas Sophia Valverde (Jane) e Duda Matte (Blanche) são graciosas em cena. As jovens Rachel Rennhack (Jane) e Juliana Rolim (Blanche) têm presenças fortes. O versátil ator Licurgo Spinola assume com desenvoltura todos os papeis masculinos, encarnando o pai das crianças, um diretor de cinema e um pianista oportunista. Com boas performances, completam o elenco Nedira Campos (a vizinha intrometida) e Teca Pereira (a amedrontada criada da casa).  

Para dar conta do desafiador projeto, montou-se uma equipe técnica de experiência no teatro musical. Rogério Falcão criou o cenário, que reproduz em tons lúgubres o lar das  Hudson - a claustrofóbica mansão ganha contornos de uma espécie de prisão psicológica, que acentua a sensação de solidão. Carol Lobato desenhou inspirados figurinos de época. A iluminação de Paulo César Medeiros contribui para ativar uma atmosfera de suspense, assim como a trilha sonora, que remete a fitas americanas dos anos 1950 e 1960, composta por canções de autores como Bernard Herrmann, parceiro habitual de Hitchcock. O visagismo de Beto Carramanhos se faz notar principalmente na caracterização de Eva Wilma. Se não tem a força e contundência da obra cinematográfica, que deixava nas entrelinhas um interessante estudo sobre sucesso e fracasso, além de abordar o tema das rivalidades familiares destrutivas, a peça não decepciona o espectador afeito a enredos com cenas de impacto e reviravoltas no desfecho.  

 (Vinicio Angelici – O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. )

(Foto Marcos Mesquita)

 

Avaliação: Bom    

 

O Que Terá Acontecido a Baby Jane?

Texto: Henry Farrel

Direção: Charles Moeller e Cláudio Botelho

Elenco: Eva Wilma, Nicette Bruno, Licurgo Spinola, Nedira Campos, Teca Pereira e outros.

Estreou: 19/08/2016

Teatro Porto Seguro(Alameda Barão de Piracicaba, 740, Campos Elíseos. Fone: 4003-1212). Sexta e sábado, 21h; domingo, 19h. Ingresso: R$ 90 a R$ 120. Até 30 de outubro.

 

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