EDITOR: Edgar Olimpio de Souza (O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.

 

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Teatro: Recordar É Viver

A família retratada nesta peça vive falta de sintonia e num ambiente doentio. Todos, de alguma forma, dependem um do outro. Encenado pela primeira vez, o texto do jornalista, escritor e historiador Hélio Sussekind embute influências da dramaturgia dos autores americanos Eugene O´Neill e Tennessee Williams, quando leva ao palco uma família e seus conflitos. Não tem, no entanto, o viés de crítica social de Williams nem mergulha nos mecanismos psicológicos dos personagens como faz O´Neill. Os diálogos, às vezes ferinos, também ecoam a agudeza vista na obra de Edward Albee. São influências bem-vindas, diga-se. Mesmo não evoluindo satisfatoriamente e sem reviravoltas que produziriam outras leituras, o texto de Sussekind tem potencial dramático. As conversas são redundantes, como se girassem indefinidamente em torno do mesmo eixo, mas há momentos que os diálogos ganham ossatura, agressividade e humor mordaz. A trama, que se passa em 1990 em um bairro classe média carioca, coloca em cena um sexteto de personagens em colisão e desentendimentos. O casal septuagenário Ana (Suely Franco) e Alberto (Sérgio Britto) se deixa levar por uma discussão sem fim sobre o filho caçula Henrique (José Roberto Jardim) que, com trinta anos nas costas, ainda não saiu de casa e insiste em escrever peças nunca encenadas. Ambos não só divergem sobre a situação do rapaz como acumulam feridas não cicatrizadas. Como contraponto, o irmão mais velho João (Camilo Bevilacqua) é um profissional bem-sucedido que finge não se abalar com a preferência dos pais pelo mais novo. Paula (Ana Jansen) é a outra filha, que voltou a se instalar na residência após sucessivos fracassos amorosos. O grupo é completado por Bruna (Anna Cecília Junqueira), namorada de Henrique que o apóia no início e depois o estimula a buscar novos rumos.      

O quadro de choques e enfrentamentos está formado, aparentemente aliviado nos momentos em que a família dedica-se a cultivar o hábito de projetar slides com imagens de um passado familiar cheias de promessas de êxito e cumplicidade afetiva. Eles eram felizes e não sabiam. Ou recordar é viver, na fina e sutil ironia do título. Diretor experiente, Eduardo Tolentino contorna as limitações de um texto que não alça vôos mais altos imprimindo um registro que valoriza os embates. É uma encenação sem invencionices e que se ancora na visível química no palco entre Suely Franco e Sérgio Britto. O ator, verdadeira lenda viva do teatro brasileiro, desempenha com sobras de humor o pai ranzinza que protege o filho e acredita que um dia ele vai acontecer. A atriz, dona de comprovados recursos técnicos, chega a reinar absoluta na pele de uma mãe que sofre de síndrome do pânico e está apreensiva com a apatia do caçula. Embora sem mostrar um registro de interpretação definível, José Roberto Jardim transpira o desassossego de um aspirante a dramaturgo que ainda tateia lugar no mundo e não tem forças para iniciar outras atividades. No papel do irmão inconformado com a atitude dos pais, Camilo Bevilacqua está intenso e transmite verossimilhança. Ana Jansen, como a filha que precisa recomeçar a vida, e Anna Cecília Junqueira, a namorada empenhada em ser companheira de Henrique, enfrentam com desembaraço personagens sem nuances e mal desenvolvidos pelo autor. Lola Tolentino assina o cenário, resumido às salas de estar e jantar, e os figurinos com a competência de sempre. A iluminação de Paulo César Medeiros está a serviço da proposta da encenação, centrada na força da trama e não na ambientação. É uma montagem que, se não chega a imergir profundamente no tema da família e suas virtudes e vícios, funciona satisfatoriamente e se acompanha de forma prazerosa. Em algumas sequências, especialmente os diálogos entre Sérgio Britto e Suely Franco, chega a promover catarse no público.  

(Vinicio Angelici – O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. )

(Foto: Guga Melgar)

 

Avaliação: Bom

 

Autor: Hélio Sussekind

Direção: Eduardo Tolentino

Elenco: Sérgio Britto, Suely Franco, José Roberto Jardim e outros

Estreou: 28/01/2011

Sesc Consolação (Rua Dr. Vila Nova, 245, Consolação. Fone: 3234-3000). Sexta e sábado, 21h; domingo, 19h. Ingresso: R$ 8 a R$ 32. Até 27 de fevereiro.

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