EDITOR: Edgar Olimpio de Souza (O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.

 

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Teatro: Alô, Dolly!

Com personagens descarados, situações que lembram o tal jeitinho brasileiro e uma trama cômica em torno de uma ciranda afetiva de casais, a adaptação brasileira de um dos mais bem sucedidos musicais norte-americanos é impecável. Pode até soar ingênuo, e é, comparado aos similares já encenados aqui, mas tem suficientes atrativos, além do saboroso encontro de Miguel Falabella e Marília Pêra, para agradar grandes platéias. O texto é inspirado em A Casamenteira, peça de Thornton Wilder (1955), que, por sua vez, foi influenciada por O Avarento, de Molière. Foi escrito por Michael Stewart, com música e letras de Jerry Herman, e estreou na Broadway em 1964, arrebatando, entre outros prêmios, o de melhor atriz para Carol Channing. No Brasil, ganhou célebre montagem em 1966, capitaneada por Bibi Ferreira e Paulo Fortes.  

De enredo simples e pitadas de vaudeville, a história transcorre em Nova York no século 19. A protagonista é a intrometida casamenteira Dolly Levy (Marília Pêra), contratada pelo mal-humorado e avarento comerciante interiorano Horácio Vandergelder (Miguel Falabella) para lhe arranjar uma esposa na cidade grande. Ela chega a apresentá-lo a uma pretendente, mas, esperta, percebe que o viúvo é um bom partido e arma uma série de trapaças e mal-entendidos para conquistar o seu coração.

Além de atuar, Falabella assina a versão da peça, com adição de ingredientes brasileiros ao espetáculo, como um apropriado sotaque caipira de alguns personagens, e o descarte de efeitos visuais ou pirotécnicos. São recursos que avizinham a trama da nossa realidade, injetam leveza e evitam um tipo de humor que poderia facilmente desaguar numa chanchada. Sua interpretação, que cativa o público, exibe carisma e encanto suficientes para amenizar o seu excesso de personalidade e o habitual registro vocal um tanto zombeteiro, visto especialmente em tipos televisivos. Como diretor, oferece uma encenação fluída, de marcações ágeis e criativas, e faz o elenco transpirar charme em cena.

Na pele da perspicaz casamenteira, Marília Pêra tem desempenho solar e irresistível. Esplendorosa aos 70 anos, ela é uma das poucas atrizes brasileiras completas na arte de cantar, dançar e representar. Teceu uma Dolly adorável, matreira e divertida, que domina os números musicais e valoriza todas as nuances exigidas pelo papel – a elegância com que desce as escadarias entoando a canção-título, no segundo ato, é inesquecível. Este crítico viu uma remontagem na Broadway em 1995, protagonizada por Carol Channing, então com 74 anos. Marília a supera pela partitura corporal e um timbre de voz mais agradável. Ela é responsável, aliás, por alguns dos momentos de maior comicidade da montagem, quando diz que “o casamento é um artifício sob o qual um homem convence uma empregada de que ela é a patroa.”

Ajustado, o elenco que escora os protagonistas também brilha no palco. Uma das atrizes e cantoras com mais recursos técnicos do teatro musical brasileiro, Alessandra Verney (Irene Molloy) encarna uma chapeleira sedutora, iluminando seus solos com visível desenvoltura. Ester Elias (Minnie Fay), Thiago Machado (Ambrósio Kemper) e Brenda Nadler (Ermengarda Vandergelder) dão vida e graça a subtramas do enredo. Frederico Reuter (Cornélio Hackl) e Ubiracy Paraná do Brasil (Barnabé Tucker) exploram a veia cômica de personagens atrapalhados e metidos em confusões. Merecem também destaque as performances de Ricardo Pêra, que instila afeto ao autoritário maitre do restaurante, e Patrícia Bueno, como a falsa milionária bêbada.

A equipe de criação é outro ponto alto desta versão. A imponente cenografia (Renato Theobaldo e Roberto Rolnik) evoca os ambientes da ação e é auxiliada pela iluminação climática e matizada de Paulo Sérgio Medeiros. Os figurinos do estilista Fause Haten, nome cada vez mais presente na cena teatral, são coloridos e de cortes nada triviais, que sublinham e realçam as personalidades das figuras que circulam pelo palco – um dos destaques é o vestido dourado de Dolly, incrustado de vidrilhos, paetês e lantejoulas. Responsável pelas coreografias, Fernanda Chamma apostou na agilidade e energia dos números musicais. A viagem de trem, desenhada com os corpos dos atores, é encantadora. Com direção musical de Carlos Bauzys, a eficiente orquestra de dezesseis integrantes é regida com segurança por Daniel Rocha.

Trata-se de um musical que, sem ousadias estéticas ou preocupações em escavar linguagens novas para o gênero, cumpre com perfeição a função de entreter, proporcionando ao público momentos de genuíno deleite e prazer..

(Vinicio Angelici - O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. )

(Foto: Caio Gallucci)

 

Avaliação: Ótimo

 

Alô, Dolly!

Texto: Michael Stewart

Músicas e Letras: Jerry Herman

Direção e Adaptação: Miguel Falabella

Direção Musical: Carlos Bauzys

Elenco: Marília Pêra, Miguel Falabella, Patrícia Bueno, Frederico Reuter e outros.

Estreou: 02/03/2012

Teatro Bradesco (Rua Turiassu, 2.100, Shopping Bourbon, Pompéia. Fone: 3670-3129). Quinta, 21h; sexta, 21h30; sábado, 18h e 21h30; domingo, 18h. Ingresso: R$ 20 a R$ 200. Até 2 de junho.

 

Vejas cenas do espetáculo:

 

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