EDITOR: Edgar Olimpio de Souza (O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.

 

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Cinema: Os Descendentes

O Havaí mostrado aqui não é o paraíso que se imagina. Neste espontâneo e delicado drama sobre retomada de afetos e desenlaces, o que importa é o estado de espírito dos personagens. Nos primeiros minutos, o longa trata de por os pingos nos is desnudando o lugar em forma de clipe: nada de clichês de dias ensolarados, gente bonita pelas ruas, êxtases sem fim, mas pessoas envolvidas em conflitos, donas de sentimentos mesquinhos, uma mulher à beira da morte na cama de um hospital. Dirigido por Alexander Payne (Sideways), a produção protagonizada por George Clooney faturou o Globo de Ouro de melhor filme dramático e é um dos favoritos ao Oscar desse ano. Inspirada no romance de estréia da escritoranativa Kaui Hart Hemmings, a trama transcorre justamente nessa ilha logo de cara desmistificada. O cinquentão Clooney interpreta um advogado nascido e criado no Havaí, trabalhador compulsivo, que detém o controle acionário de centenas de hectares de terras valiosas, cujos donos no passado pertenciam à realeza havaiana. Ao lado dos familiares, todos descendentes, precisa decidir se vai negociá-las por milhões de dólares para empresas interessadas em erguer condomínios de luxo de olho na exploração turística do lugar. Não bastasse a pressão de um dos primos, favorável à venda, a comunidade local revela-se avessa à idéia de transformar o cartão postal em um centro de lazer e comércio. Matt King enfrenta também uma crise pessoal – sua esposa Elizabeth (Patrícia Hastie) sofreu um grave acidente de lancha e está em coma, prestes a ter os aparelhos que a mantém viva desligados. Como desgraça pouca é bobagem, ele descobre ainda que ela não era exatamente fiel. Ao mesmo tempo, precisa se reaproximar de suas duas filhas, a caçula Scottie (Amara Miller), que tem prazer em incomodar as coleguinhas de escola, e a adolescente Alexandra (Shailene Woodley), inicialmente rebelde e debochada, depois parceira e carinhosa. O enredo adiciona o pai de Elizabeth (Robert Foster), pouco disposto a poupar o genro pela morte iminente da filha, e Sid, amigo descompromissado de Alexandra, garoto que parece funcionar na trama como alívio cômico. 

Na filmografia de Payne, os personagens estão sempre tentando aprender a lidar com os seus sentimentos e na circunstância de tomar difíceis decisões pessoais – observe como o diretor, por meio da narração em off de Matt, estabelece uma comparação irônica entre a família e um arquipélago, ambos fazendo parte de um todo, porém cada vez mais atuando de forma separada. Com narração em primeira pessoa, o longa acompanha a família do advogado e a necessidade que ele percebe de reconstruir a sua trajetória e retomar os laços familiares. Há um equlíbrio natural entre todos esses elementos reunidos, uma simplicidade que esconde, na verdade, camadas de grandes emoções humanas. Ao mergulhar na vida desses personagens, o que sobressai são diversas questões morais – como discutir com uma mulher em coma a respeito de sua infidelidade? É uma das melhores cenas, ao lado daquelas em torno do leito de Elizabet em que os personagens de alguma forma parecem destinados a expiar seus mais profundos sentimentos e remorsos. Apanhado pelos eventos, Clooney entrega um desempenho cheio de sutilezas e nuances, sem exageros, fazendo com que o espectador compartilhe de seus pensamentos e de sua sensação de desnorteio diante dos fatos. Tocante e nada piegas, ainda que a trilha sonora por vezes ameace enredar a trama nas armadilhas do melodrama, o filme que fala de morte e despedidas termina com a família unida.                

(Edgar Olimpio de Souza)

(Foto Divulgação)

 

Avaliação: Bom

 

Os Descendentes

Título Original: The Descendants(EUA, 2011) 

Gênero: Drama, 115 min 

Direção: Alexander Payne 

Elenco: George Clooney, Shailene Woodley, Amara Miller e outros                                     

Estreou: 27 de janeiro

 

Veja o trailer do filme:

 

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