Teatro: Cazuza - Pro Dia Nascer Feliz, o Musical
- Criado em Quarta, 17 Setembro 2014 13:21
- Escrito por Vinício Angelici
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Cazuza foi um tipo de herói às avessas da MPB nos anos 1980. Compositor de canções poéticas e incisivas, dono de língua afiada e alma rebelde, traço que o levava a ser comparado ao inquieto poeta francês Arthur Rimbaud, ele teve carreira tão curta quanto intensa (1958-1990). Por isso, é mais do que oportuna a homenagem ao artista por meio de um musical de ritmo fluído, trama envolvente e repertório poderoso. O texto assinado por Aloísio de Abreu radiografa diversos momentos da vida do personagem, do flerte com o teatro na juventude, à montagem de uma banda de rock, o estrelato solo, os romances intempestivos, o vício em cocaína e a descoberta da doença (Aids). Sua tarefa foi facilitada porque a obra musical de Cazuza tem o condão natural de funcionar como elemento cênico. A narrativa se construiu a partir do livro Só as mães são felizes, depoimento da mãe Lucinha Araújo à jornalista Regina Echeverria, conversas com pessoas próximas ao homenageado e ampla pesquisa jornalística.
João Fonseca dirigiu a montagem de forma inventiva, equilibrando com astúcia a vida pessoal do artista e sua atividade profissional. Em momento algum o espetáculo descamba para o formato de um show. Se derrapa um pouco ao esticar demasiadamente as sequências em que o cantor sofre e luta contra a doença, o diretor não perde a mão em cenas comoventes, como aquela em que, numa corajosa entrevista, Cazuza assume publicamente ser portador do vírus HIV em uma época em que a doença era mais conhecida como “peste gay”. Outro trunfo é o harmonioso roteiro musical. As 29 músicas se distribuem de maneira inteligente e definem contextos e sentimentos. Ideologia, por exemplo, é composta no hospital americano onde ele se internou para tratar de sua saúde. A relação entre mãe e filho atinge o ápice emocional em Exagerado. A ruptura musical entre Cazuza e Frejat, guitarrista da banda Barão Vermelho, ganha tradução em Eu Queria ter uma Bomba.
Com atuação arrebatadora, em meio a um elenco que esbanja garra, Emílio Dantas torna verossímel o personagem, uma figura de temperamento difícil, talento incomum para a música e afeito a rebeldias com e sem causa. Ele faz o público rir e chorar ao falar, cantar e gesticular como o artista – é notável a transformação física do ator do primeiro ao segundo ato, marcado pela saúde debilitada. Na pele de pais do artista, Susana Ribeiro e Marcelo Várzea exibem desempenhos sensíveis. Como intérprete de Ezequiel Neves, produtor do Barão Vermelho e espécie de guru do cantor, André Dias carrega na tinta e resvala numa certa caricatura. Brenda Nadler (Bebel Gilberto), Fabiano Medeiros (Ney Matogrosso) e Dezo Mota (Caetano Veloso) mais imitam que retratam seus personagens. Thiago Machado compõe Frejat com segurança e sem afetação.
A cenografia de Nello Marrese, estruturada em planos de madeira, é funcional. Não só cria os diversos ambientes previstos no enredo como proporciona à direção desembaraço nas mudanças de cena. O cenário operacional dá dinamismo ainda às vibrantes coreografias de Alex Neoral. Os figurinos de Carol Lobato são expressivos e remetem à estética da década de 1980. A luz desenhada por Daniela Sanchez e Luiz Paulo Nenen realça a modernidade daqueles tempos. A eficiente performance da banda que embala a encenação se deve ao preciso trabalho do diretor musical Daniel Rocha. Há um movimento efervescente no filão dos musicais arquitetados a partir das biografias de cantores e compositores. No Brasil, o gênero se diversifica e não depende mais dos temas oriundos da Broadway.
(Vinicio Angelici - O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. )
(Foto:Léo Aversa)
Avaliação: Ótimo
Cazuza – Pro Dia Nascer Feliz, o Musical
Texto: Aloísio de Abreu
Direção: João Fonseca
Elenco: Emílio Dantas, Susana Ribeiro, André Dias e outros
Estreou: 18/07/2014
Teatro Procópio Ferreira (Rua Augusta, 2823, Cerqueira César. Fone: 3083-4475). Quinta e sexta, 21h; sábado, 17h30 e 21h30; domingo, 18h. Ingressos: R$ 50 a R$ 180. Até 26 de outubro.
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