EDITOR: Edgar Olimpio de Souza (O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.

 

  • Font size:
  • Decrease
  • Reset
  • Increase

Genitália sem retoques

São pênis e vaginas de tudo quanto é tamanho, cor e forma, fotografados de maneira natural, sem apelo erótico. No Banco Mundial da Genitália, idealizado por três jovens amigos dispostos a contrariar a ditadura da perfeição física, não importa se os órgãos sexuais são atraentes, belos e excitantes. Vale o fato de que estão ali, expostos na vitrine, despidos de qualquer tipo de artifício ou maquiagem, como se costuma observar na nudez veiculada pela indústria da publicidade ou pelo entretenimento adulto.

As imagens das partes íntimas frontais são colhidas em festas e eventos culturais descolados, em uma tenda especial armada no local, e não se exige nada além do interesse do participante em se deixar fotografar desnudo da cintura para baixo. O processo é rápido e indolor. No dia seguinte, as fotos irão figurar no site do referido banco. Mas, atenção: a identidade dos donos das genitálias é mantida rigorosamente em segredo. Sequer há divisões por faixa etária, nacionalidade, dimensão, gênero. Tudo é embaralhado porque a proposta artística é celebrar a diversidade do corpo humano.

O projeto do escritor João Kowacs, 24, da videomaker Caroline Barrueco, 26, e da fotógrafa Luiza Só, 25, não disfarça a intenção de desmistificar a ilusão de que existe um modelo correto de genitália. “Estamos submetidos a um padrão estético que não existe na vida real”, acredita Kowacs. “A imagem do nu hoje na mídia é refém de um conceito reducionista da beleza, ditado pela minoria. Não vemos mais genitálias normais, com suas óbvias imperfeições”, emenda Caroline.

Na internet desde julho do ano passado, o arquivo disponibiliza no momento algo em torno de quinhentas fotografias, das quais 60% são retratos de pênis. A supremacia masculina teria uma explicação, segundo os criadores: os homens parecem buscar um sentimento de autoafirmação ao se exporem, enquanto as mulheres se descobrem mais envergonhadas no ato de se despirem.   

Ato de resistência. Um dos efeitos colaterais da imposição de um modelo dionisíaco de beleza é, na avaliação de Caroline, a insegurança que acomete os amantes na hora do sexo, especialmente as mulheres. “Por acreditarem que não têm um corpo compatível com o padrão vigente, muitas delas só conseguem transar à meia luz”, afirma. “Quem disse que é preciso exibir um corpo maravilhoso para fazer amor?”, questiona ela, que critica o modismo atual das cirurgias plásticas nos lábios vaginais e o uso escancarado do photoshop (software que edita imagens) para corrigir “falhas” na silhueta das modelos das revistas masculinas.  

Durante o trabalho, mesmo com o aviso antecipado de que não se trata de material pornográfico, eles já se depararam com situações inusitadas. “Alguns homens querem ser fotografados com o membro ereto e chegam a perguntar se vai haver algum tipo de manipulação para auxiliá-los na empreitada”, diverte-se Kowacs. Outros ingressam na cabine sem a mínima noção do projeto e, ao tomarem ciência, surtam. Tem gente que, para se sentir mais à vontade, pede para que o fotógrafo também se dispa. “Como tirar a roupa é um momento íntimo, alguns esperam a nossa cumplicidade”, diz Caroline. Há ainda aqueles que querem fotografar outras partes do corpo, como a bunda, ou enfeitar seus órgãos sexuais com adereços e penduricalhos. Se no início essa iniciativa era desestimulada, com o tempo passou a ser aceita. Isso originou um banco B de imagens “rejeitadas”, hoje com cerca de cinqüenta fotos.

O próximo passo é inserir um link para que os voluntários enviem as fotos de suas genitálias. “Já temos na vitrine pênis e vaginas da Espanha, Alemanha, México, Portugal e França”, festeja Kowacs. Por causa dessa brincadeira, que ganhou proporções inesperadas, eles são convidados ao menos para uma festa semanal. O assédio teria aumentado, na percepção deles, porque o Banco Mundial da Genitália não transforma pênis e vaginas em produtos efêmeros de consumo. Funciona como um ato de resistência, uma questão ética. “Queremos que as pessoas se sintam à vontade diante de seu corpo e do corpo dos outros”, reforça o escritor. “Estamos dando nossa contribuição para dissolver o tabu de que uma genitália ´não normal´tem de ser escondida.”

Anote aí:

Banco Mundial da Genitália: www.genitalia.me

Comente este artigo!

Modo de visualização:

Style Sitting

Fonts

Layouts

Direction

Template Widths

px  %

px  %